terça-feira, 22 de julho de 2014

Caindo no sonho

Quando você sonha que está caindo é porque conseguiu viajar até o mundo dos sonhos, e lá conseguiu aprender algum segredo. O problema está quando lembra que está dormindo e tenta levar esse segredo que aprendeu para o mundo acordado, e então os guardiões do mundo do sonho fazem com que você caia de volta pra sua cama. E quando acorda, não lembra do segredo, apenas que estava caindo.

Depressão e progresso

Na minha opinião, os grandes gênios do mundo tinham depressão. Pessoas deprimidas ficam sozinhas, pensando, e criam mundos e coisas nas suas cabeças para compensar o mundo ruim à sua volta. Quando elas mostram esses pensamentos pra gente na forma de quadros, músicas e livros, eles deixam o nosso mundo real mais feliz. O mundo seria muito chato se não existissem pessoas deprimidas para deixá-lo melhor!

Chatisse pela inocência

Quantas vezes já perguntaram para o Jô Soares o que é que tem dentro do copo de café que ele usa no programa?

Quantas vezes já perguntaram pro Dr. Caio Pinto se ele é broxa?

Quantas vezes já perguntaram pra vendedora se além de Promoção se tem Pra mocinha?

A gente acha que só a gente faz a piada...

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Totarquia: todos mandam no gigante


Por  (SP) em 12-04-2012
(do grego okhlos, multidão e kratos, poder) não é, rigorosamente, uma forma de governo, mas uma situação crítica em que vivem instituições, ao sabor da irracionalidade das multidões. O termo indica o jugo imposto pelas multidões ao poder legítimo e à lei, fazendo valer seus intentos acima de quaisquer determinações de Direito Positivo.
A oclocracia também pode ser definida como o abuso que se instala num governo democrático quando a multidão se torna senhora dos negócios públicos.
Segundo a visão clássica aristotélica, é, como a tirania e a oligarquia, um dos três tipos específicos de degeneração das formas puras de governo - da politeia.

sábado, 19 de julho de 2014

Fá e Lili


Resposta ao poeminha ruim


E caiu,
não foi a maçã
foi a moçoila 
que parecia sã

caiu de madura
não pela idade
pois, na verdade
viu oportunidade

queria um braço
e depois de um passo
ganhou um abraço
e evoluiu para um amasso

que pouca vergonha
ali embaixo do pé
um tal de nhola
e furipororiquequé!!!

poeminha ruim mas de boa intenção‏


Picture courtesy of unknown artist
Lili estava na árvore 
de tanto mexer, caiu
o fá viu a cena, correu ajudar
sorriu
A Lili tava caindo
mas nos braços do Fá
ficou
Então se amaram
para sempre
como ninguém que 
existiu
E os dois se beijaram
e vermelha a bochecha do fá 
ficou
Os dois viraram namorados
e tiveram um final feliz
viu?

João Ubaldo morreu



Quando fiquei sabendo da morte de João Ubaldo, fui correndo descobrir que dia era hoje. Porque precisava marcar o dia em que Itaparica jamais seria a mesma. Que pena para o Brasil, para os leitores da língua portuguesa, para o mundo. Caras legais deveriam ter bônus de permanência.

Só Deus é grande

A Divine Being by orij
Deus existe? Deus não existe. Deus existe? Deus não existe. 
Por que causa tenho que ficar lutando para chegar à uma conclusão final sobre esse assunto? 
Sei que sinto sua presença nas vezes de dúvida, e quando peço que ele apareça sempre sinto que ele me atende. 
Me atende ou me obedece, me atende ou me obedece? 
Obedecer no sentido de ser sua presença apenas efeito placebo da minha imaginação. 
Ou obedecer no sentido de que tradicionalmente parece que Deus tem uma obrigação infinita para conosco, no sentido de que não importa quanto o desprezemos ou contrariemos suas regras, simplesmente voltando atrás e nos arrependendo atende à regra de ouro de torná-lo ao nosso lado novamente. 
Lembro-me de alguns momentos que senti ele na minha presença, e foram momentos que chamei-lhe ao meu lado. 
Será que é assim simplesmente porque nossa teimosia é ínfima frente à paciência titânica do onipresente? 
Ou porque ele mal sabe que nós de fato queríamos maltratá-lo, ou magoá-lo? 
Penso em quantas pessoas gostariam de ser deuses, e gostariam de fato de sentir o prazer de pegar seu lugar para sempre universo afora. 
Coitados, pobres coitados! Não imaginam a tristeza e a solidão que é ser dono de tudo por todo o sempre.

Isso me faz lembrar dos meus sonhos almejados na época de faculdade. 
Me idealizei eterno, ou pelo menos com uma sobre-vida fabulosamente maior que qualquer ser humano já vivo nessa terra. Então me imaginei me formando médico, engenheiro, advogado, sendo um cientista com pesquisas extremamente aprofundadas, um especulador com talento nato apurado por séculos sobre qualquer espécie de negócio, o prefeito, governador, presidente, chanceler mundial, o próprio Fuhrer! 
E então, com todos os bilhões acumuladas, com meus descendentes comandando todo o planeta, nada mais se importando, e toda minha história caminhando para a involução. 
Deixaria minhas fortunas para trás, as guerras, a esperteza e a especulação, a sabedoria e a cultura, e assumiria cargos vulgares, trabalhos ordinários em funções triviais. 

Misturar no mundo, o anonimato, o viver mais um dia simplesmente porque nenhum luxo seria bom pra mim, nenhum castelo grande o suficiente, nenhum exército armado como gostaria exatamente que fosse. 

Então seria vagabundo, bandido, viciado por anos, pederasta, tarado, assassino e corrupto, corruptor e covarde, vacilante e vilão. 
Choraria sem ninguém pra me consolar, encheria meu coração de fúria e de destruição. 
Então, tentaria inventar a morte, mesmo sabendo que ela não poderia existir pra mim. 
Tentaria buscar o niilismo, mesmo sabendo que o nada nem mesmo a meditação e o nirvana poderiam de fato aplacar a mente e o corpo de um ser materialmente imortal. 
Acredito claramente, talvez por arrogância e vislumbre do meu estado atual, que eu buscaria tentar esquecer as experiências passadas, fugiria dos excessos e tentaria em fim ser uma cara normal, como eu ou como você, com um emprego, uma casa, um aluguel e um cartão de crédito para pagar. 
Porque esse são os problemas realmente suportáveis nesse universo, e nenhum outro mais.

Finais não importam


Acaso gostaria eu de me especializar nas preliminares, nos intróitos e nas formalidades iniciais? Sim, porque se eu abrisse e lê-se trechos à esmo, ficaria claro e assumido que estou voltado para a diversão esparsa e imediata, mas aparentemente sinto-me acovardado em assumir que não quero mais ler livro algum, então quando os abro de forma magnífica sentindo seu cheiro de novo com grata novidade no estilo e forma autorais, vou sempre para seus inícios. 


Gosto de coisas novas, e de contar casos furtivos que me aparecem na mente. Tenho alta dificuldade em escrever memórias ou continuar histórias de outros dias. Seria essa atitude um exemplo do espírito nômade e casual que cerceia os grandes projetos de nossa geração?

Percebi algo parecido com minhas leituras. Cada dia que vou na biblioteca, e minhas visitas são diárias, quero ler trechos de um novo livro. Sempre começo do prefácio, e quando ou se os venço, parto para o início do capítulo primeiro. 

Mas de lá sou condenado a nunca mais voltar. O que de fato significa isso? Eu me faço essa pergunta freqüentemente, o porque não dignificar nenhuma obra com um pouco da minha paciência e persistência? 
Sabem vocês, como sei eu que a memória do ser humano não se compara às memórias dos elefantes, então se, de alguma forma voltar a ler esses livros talvez daqui cinco semanas ou anos, tornarei a começá-los novamente da contra capa, sob risco de mal lembrar de que se trata o início do livro e seu primordial incidente incitante.

Falou aquela amante de gatos

Mysterious Cat by GiovannyArceVejam os olhos desse gato! São amarelos, como âmbar, alguém dê sardinha em homenagem à fofura desse velhaco!

Quem foge do grito que mora lá dentro?

Quero novo, quero algo novo, que não posso sempre cantar nesse palco canções tão tristes sem verter algumas vezes inspiração.
Quero tédio, só um pouco de tédio, que de estresse e terror vivemos todo o tempo. Um copo de vinho por um minuto de silêncio na minha cabeça, e não falo de garrafa casta, mas coisa fina de boa cepa!

Ai, se me dessem mais tempo, pra falar quanto mais coisa quero, que sou um homem de paixão, rico de amor e cheio de evidências de um não bastar infinito!

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Biblioteca Mário de Andrade

Masoch, o escritor que discursava

Em um tempo não muito distante, também não muito remoto, um escritor escreveu um livro contando uma história. 
writer-wretch  Era uma boa história, pensou, ao ver seu trabalho concluído. 
  Porém não sabia de fato como faria para que as pessoas lessem essa obra prodigiosa que custara lhe grande trabalho para sua construção. 
  Desolado, por ter em mais apenas seu original e nada mais, bem parentes bem amigos que gostassem de ler ou lhe pudessem indicar uma editora,  Masoch, esse é o nome que  lhe daremos, estava desolado, imaginando o ostracismo eterno de sua recém nascida história. 
  Um dia, voltando do trabalho e sem nada de importante para fazer, sentou se ao computador com café e rosquinhas nas mãos. 
  Olhou sites cotidianos, fofocas de celebridades e outras tantas trivialidades às quais estamos tão acostumados a doar nosso escasso tempo de vida útil. 
  Um link então o remeteu à uma página do you tube onde se encontrava um vídeo em que um aspirante a ator encenava um monólogo em frente à um pano preto. 
  A encenação era sofrível e o texto escolhido era péssimo, mas serviu de inspiração para o grande momento de epifania que Masoch teve. 
  Ele pensou em narrar seu livro em um grande vídeo com todas as vozes, tempos e pausas dramáticas que idealizara para seu texto. 
  Naquele dia e nos seguintes, Masoch nada mais fez do que preparar se para a narração. 
  No início, narrou em seu quarto, com alguns problemas de áudio ou de buzinas provenientes da rua em frente ao seu apartamento. 
  Depois, seus conhecidos e parentes começaram a ficar curiosos e decidiram bisbilhotar sua recém atividade secreta. 
  Com o tempo, porém, Masoch arrumou jeito para enfrentar cada um dos pequenos empecilhos que atravancavam seu projeto e deu prosseguimento â um fluxo consistente de trabalho. Masoch até se deu ao luxo de gravar trechos em bares onde fumaça cigarros, subindo montanhas, andando de bicicleta e até no consultório de sua dentista. 
  Todos que o viam achavam no louco, mas que mais deveriam fazer se sua loucura era inofensiva e pouco incomoda para os outros? 
  Falar por falar sozinho, por isso inventaram os celulares. Pois bem. Após um ano de serviço, pós termo ao seu projeto. 
  Tinha em maios um vídeo de quase trinta horas contendo a completude de sua obra. Narração, imagens bonitas e condizentes com o texto, até alguns efeitos especiais sonoros e demais  penduricalhos ornamentais. 
  Porém não sabia de fato como faria para que as pessoas assistissem esse vídeo prodigioso que custara lhe grande trabalho para sua construção. 
  Então depois de pensar por um dia inteiro, decidiu contratar um agente. Fim.

A mão esquerda da escuridão, de Ursula K. Le Guin

  O prefácio do livro dessa autora é o máximo. Ela diz que geralmente a ficção científica se dá por meio da extrapolação. Então, exemplifica que doses pequenas de alimentos ingeridos diariamente por seres humanos normalmente causam câncer em ratos em doses cavalares.
  E então compara isso à ficção científica extrapolada, que sempre torna o mundo futuro em algo caótico e potencialmente perigoso.
  Depois, Úrsula nos diz que existe também a ficção científica feita através do sentimento da época, ou seja, o que o autor sente das relações humanas no presente, e a experimenta em um contexto alienígena, não existente em lugar nenhum de universo que não seja sua própria mente criadora.
  Ela separa o profeta, alguém que prevê o futuro gratuitamente, o vidente, que o prevê por honorários, o futurólogo de forma assalariada, e então diz que o escritor de ficção científica não é de nenhuma forma comparável a eles, pois este vive da mentira descarada.
  O escritor não prevê nada, ele ao contrário inventa, ou seja, mente algo baseado como os seus conhecimentos e premissas de mundo presente.
  Cita no final o eterno paradoxo da escrita, que é utilizar-se dela para fazer com que pessoas pensem em coisas indizíveis em palavras. 
  A mentira, do ponto de vista semiótico, o símbolo no ponto de vista psicológico e a metáfora no sentido filosófico são as múltiplas facetas que um amontoado complexo de palavras pode assumir para criar a ilusão de um novo mundo que jamais existirá na cabeça do escritor e seu leitor.
  Como diria Mário Vargas Llosa em um ensaio, o romance não nasce da simples escrita de seu autor, mas na primeira leitura de sua obra. Excitante perspectiva.

Esboço das terras negras de Alice

Sobre os escombros e funéreos passeares de almas, restos de gente meio viva e  outras cousas de aspectos pútridos e causticantes, onde nos subsolos habitam grandes répteis metálicos de velocidade e ferocidade inimagináveis, apesar dos dóceis caminhos previsíveis, um lugar capitaneava os seres daquele mundo, em meio aos grandes e incomensuráveis quênions de concreto. Um lugar em que os seres disformes e mutantes ganhavam espaço para exercerem suas barganhas pela sobrevivência, e nada era de fato vil ou suficiente desnecessário para tornar-se desperdício. Muitos vinham de longe para os negócios nesse vale sagrado, outros apenas passavam para ir até os outros pontos do reino. Tudo passava por ali, e nada lhe fugia da percepção. Difícil é imaginar como tanta coisa podia se mexer ou respirar o mesmo ar nesse ambiente infestado de moléstia e vida extrema fervilhando, mas tente, mesmo que por um instante, mesmo que tenha de buscar na mais profunda e ardilosa cepa de seu inconsciente. Quando num lapso de vislumbre conseguir ver algo disforme remexendo-se em vermelho e negro como as entranhas de um porco expostas à céu aberto, quando sentir o calor humano latejar-lhe a têmpora como uma enxaqueca  cegante, daí pode dizer que teve uma centelha de consciência do que é esse inferno terrestre, conhecido pelos nativos e aventureiros como "A praça da Sé".

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A literatura humaniza o monstruoso, patria o estrangeiro, normaliza o esquisito, além de nos mostrar  que o que vemos no espelho, com todos os traços, cicatrizes e imperfeições, não é meramente o nosso reflexo, mas o do homem em si: complexos, aberrações, cultura, beleza e credos .

sexta-feira, 4 de julho de 2014

História curta sobre pequeno conto de alguém

Capítulo 1
-Amor, nada nessa terra pode nos separar!
E aí veio o meteoro.

Capítulo 2
Então ele pegou a máquina do tempo e retificou:
-Amor, nada no céu e na terra pode nos separar!
E aí veio o tsunami.

Capítulo 3
Mais uma vez, usou sua máquina e entoou, num brado forte:
-Amor, nada no mar, no céu e na terra pode nos separar.
E então dela veio uma pergunta ignorante, que o fez concluir:
-Meu bem, o que nué pa ser nué, nadiânta insisti, némesm?

baseado no original de Fábio Fernandes, encontrado no extinto blog PEQUENO DICION?RIO DE ARQUÉTIPOS DE MASSA no post de 6 de julho de 2003

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Idiotas, a filosofia e um rio.

  Qualqueromem andava pela calçada quando viu um rio na quina do quarteirão. Disse com seus botões, “agora o bicho pega.”, e então procurou artifícios para continuar sua jornada. 
  Sabeseláquem, andando de soslaio pela vida com seu bonito pedalinho, viu o vizinho e parou, perguntando então logo em seguida: “O que está fazendo?”.
  Qualqueromem, impaciente com a interrupção de seus pensamentos, respondeu: “Me irritando com um abelhudo que atrapalha minhas expectativas.”.
 Sabeseláquem, boca aberta pela ousadia do compadre, resolveu mudar a estratégia, tentando deduzir o que o outro fazia: ”Pelo visto está com um problema. O velho problema de sempre.” Então foi Qualqueromem quem curioso ficou: “Velho problema, e que espécie de empecilho seria este?”.
  Então Sabeseláquem, passando a língua sentido anti-horário nos lábios pouco depois de estalar a saliva da boca num claro sinal de saber muito bem quem é que mandava agora respondeu: “Ora, você quer saber como seguir, e na pior das hipóteses, pra onde seguir. Não sabe como atravessar a rio, não é mesmo?” 
  Qualqueromem fez fusquinha do risadão boçal de escárnio que o seu adversário fez. Tentou minimizar a situação, escondendo a sua vergonha, afinal ninguém gosta de se passar por ignorante na frente de um idiota. 
  Disse então: “Hahaha bobão, como se a minha vida fosse simples como a sua, pedalando feito um Nhônho essa bicicleta d´água de palhaço de circo”, Qualqueromem começou seu discurso assim porque todo mundo sabe que atacar é melhor do que se defender, e continuou então, “Não é que eu não saiba atravessá-lo, bagre, coisa que até uma ameba pedalante consegue fazer. 
  O que de fato eu não sei, seu estúpido, e por isso estava pensando à respeito antes que você ficasse me cheirando com sua curiosidade feito um cofap sarnentão, e como DEVO atravessá-lo!”. 
  Com uma caricata cara de nojo, Sabeseláquem, apoiando seus dois cotovelos no guidão de franjinhas azuis de seu pedalo jóia, não conseguiu replicar, só deu o repetéco: “Como DEVE atravessá-lo?”. “Sim, seu, babão! Vai babar um ovo lá no Capiberibe, que eu estou tendo um problema de ordem filosófica, tendeu não, norantão?”. 
  Sabeseláquem ficou pequenininho de fracasso, tentou pedalar pra ir embora com rabo no vão das pernas, mas não alcançava o pedal, teve que ir embora empurrando a pedalinho. 
  Ficou amarelado com esse problema ordenado pela filosofia, pois não conhecia nem essa senhora nem a ordem nem o problema em si. 
  Qualqueromem ficou com na cara a expressão feliz da vitória braços abertos com punhos fechados na cintura, em posição bonachona intimidadora até Sabeseláquem sumir de sua vista nos confins do riachão. 
  Falou em voz alta, para seus botões ouvirem: “Ah, esse trouxa, caiu certinho no meu truque. Agora ele foi embora e vai até ter pesadelo à noite. Pensando que era mais esperto que eu, té parece! Mal ele soubesse que eu só disse aquilo de filosofia porque escutei falar no jornal. Ler é conteúdo mesmo véio!”, disse isso e então gargalhou forte, como o diabo na pele de rei.
   Seus botões perguntaram então, curiosos: ”Qualquerómem, Qualquerómem, o que é que é filosofia?”, e foram logo achacoalhados vulgarmente, como prostitutas imbecis: “E eu por acaso estou pouco me lixando para o que seja essa pichorra? O que eu quero saber mesmo é quem que vai me dar carona pro outro lado desse picarralho desse rio!”

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Qual é o grande dilema

  Andando no metrô buscava nas pessoas pistas conclusivas após Mentor pedir para que meditasse sobre meu dilema. Um problema pode ser resolvido por diversos meios, diz, enquanto um dilema só pode ser solucionado através da mudança da consciência.
  Pensei nisso muito tempo ontem, sem chegar a nenhum resquício do fio de novelo que me tiraria do labirinto em que me encontrava. Tive sonhos atrozes, enigmáticos, pés flota-telúricos buscando novos aéreos-galgares.
  Nada, senão suores noturnos. Foi hoje, no meio de gente viva, ocupada, atarefada com o cotidiano é que tive a epifania, que veio a mim quase em gozo de êxtase.
  Qual é o meu dilema, a força motriz da minha estória, a que mociona meus filhos em busca dos seus graais? Agora eu sei, quando vi na minha frente, em iluminação onipresente, solar, áurea, mesmo naquele túnel feito de sobras e ansiedades que é o lugar de trespasse do trem. Tudo revoluciona em torno da redenção.
  Qual seria meu grande dilema, senão lutar pela aceitação do meu trilhar obscuro, justificar aos meus iguais meu andrajo nas noites de gala, minhas incursões caridosas aos degradados sociais, minha colecionar constante pelos fatos aberrantes? Ser aceito, ser entendido, compreendido, e afinal porque não dizer, amado, é o objetivo final que tenciono almejar com a conclusão desse meu bizarro permeio. A isso chamo de redenção. Porque sempre tive ojeriza de ser enterrado na vala comum do ordinário, e desde tenra idade cobicei meu nome nas constelações.
  Não pela glória cantada do povo, da qual me escuso se demonstro tal intenção, porque julgo-me protegido pelo anonimato, além de ter a chance de agir melhor disfarçado entre as massas.
  O que me inspira sim é a vitória imortal cravada em minha alma por ter cumprido o vaticínio de ter feito jus aos meus talentos natos que considero ter recebido. É ser bem quisto pelo meu povo, que no fim compreenderá que fiz algo digno com a cruz que recebi desde meu choro pós-natal, que mesmo recebendo alívio de seu peso por pessoas por mim inesquecíveis, nunca deixei de abandoná-la um só instante do meu caminho em vida. É mostrando meus atos finais, que intento justificar meus meios.
  Espero que através deles as pessoas interpretem um pedido de perdão. E, se assim for bem sucedido, a justiça divina fara elo com a terrena, para que coadunadas determinem o maior de todos os presentes que poderia ser-me ofertado, a derradeira redenção.
  Acredito que era isso que Mentor quisesse de mim, quando pediu que pensasse sobre o meu dilema. É isso então que tenho afinal, a lhe oferecer.