quinta-feira, 16 de junho de 2011

Tapete cor de carmim

   Assumi, depois dos goles de leite morno frente à janela molhada de chuva que, pasma, acabara de concordar com a troca do velho tapete de sisal da vovó pelo felpudo cor de carmim que mamãe trouxera de uma de suas viagens ao exterior.
   Gosto de deixar claro meu ponto de vista que não gosta de olhar mudanças por perto do meu mundo.  
   Afinal, tenho coisas mais importantes para ocupar minha cabeça frente às decepções táteis causadas pelas esdrúxulas decorações feitas por uma perua que prefere ir a vernissages e concertos e óperas a abraçar sua filha com gripe. Mas dessa vez creio que ela acertou em cheio.
   Quente e macio, cheio de parafusinhos aveludados, parece até um grande bichinho de pelúcia que, me aconchegando em seus braços, leva-me a aventuras mil enquanto observo o vento levar água e movimentar as árvores desfolhadas do lado de lá dos vidros cristalinos.
   O cheiro de pipoca vindo da cozinha ajuda as boas sensações de paz, tranquilidade, e de espera.
   Maria sabe fazer os melhores bolos do mundo, mas nunca me deixa esperando em demasia sem a minha pipoca amanteigada com chocolate quente. Hoje, como os outros dias meus de solidão na sala em tempos de férias, não seria diferente.
   E como estou aqui, quietinha e com o nariz vermelho, Maria prometeu-me o meu predileto bolo de framboesas. Acho que posso dormir um pouquinho, só um tiquinho sem que esse dia perfeito se acabe. 
Meu soninho gostoso das três da tarde...

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