Como é difícil lidar com os problemas de tecnologia.
Não falo sobre o seu não entendimento, mas sobre a obsolescência programada.
Você hoje compra um computador, um tablet, um celular, e pensa, uau, eu gastei um rio de dinheiro, mas vale a pena, vou poder fazer um monte de coisas com essa tecnologia nova. Você tira da caixa, tudo cheira a novo e tem visual bacana, você põe na tomada e mal consegue esperar as 4 horas para carregar a bateria.
Então liga a tela, aquelas cores vibrantes, tudo com efeitos visuais lindos, transparências, botões novos que não vê a hora de aprender a dominar! Daí fica pensando, o que eu posso fazer com esse trequinho, que seja bom pra mim, que seja produtivo?
Uma dica, não importa o que você queira fazer, apenas faça, e faça o mais rápido possível.
Porque esses brinquedinhos da modernidade têm um relojinho dentro deles, uma coisinha que trabalha como uma pequena bomba-relógio, tic-tac, tic-tac, tic-tac!
Tudo funciona às mil maravilhas, você tem orgulho e deixa seus amigos e as pessoas do metrô com inveja.
O mundo está perfeito pra você, e você se sente contente com sua mais nova aquisição. Então, você se ilude, e comete seu primeiro erro, achar que aquele aparelho é muito bom e que você vai ficar com ele por muito tempo, porque, tal qual o relógio do seu avô que você herdou, ele é de primeiríssima qualidade e vai durar horrores! Ingênua criatura!
Então está lá você, baixando vídeos do youtube, lendo documentos online, mandando feliz aniversário pelo facebook...
Mas está lá o reloginho dentro, tic-tac, tic-tac, marcando o seu tempo.
E, num belo dia, quando você menos espera e geralmente mais precisa, então esse pequeno relogio embutido dá o seu tempo pré-programado, e seu despertadorzinho explode malvadezas, feito uma pequena bomba da infelicidade.
Então as coisas param de funcionar.
Não de uma vez, claro, porque tudo foi arquitetado de uma forma maquiavélica para levá-lo a loucura.
Primeiro, você tenta mandar uma mensagem em seu Whatsapp e aparentemente seus dedos ficam mais rápidos que seu texto... você escreve, escreve e as coisas só aparecem escritas cerca de dois segundos depois. Você acha que é um probleminha pontual e vai fazer outra coisa.
Logo após, tenta abrir seu browser, e ele demora para inicializar, e quando entra, sem nenhuma explicação, aparece uma mensagem, esse aplicativo parou de funcionar e a janela fecha repentinamente.
Então, meu amigo, se prepara, porque o esse é o início de uma longa e tortuosa viagem rumo a queda sem fim em espiral rumo a frustração e impotência.
Emails que você acha que enviou não foram enviados, ou pior, foram para pessoas erradas, seus contatos somem, a bateria começa a durar menos que o comum, geralmente acabando antes, bem na hora que precisa receber uma ligação importante do seu trabalho.
Você começa a ficar irritado, tudo na sua vida parece sair do controle, afinal, você é uma pessoa do seu tempo, o que quer dizer que tudo seu se encontra de alguma forma na nuvem. Contatos, emails, sms, Twiter, Linkedn...
Então você apela para dicas de internet, apps que prometem deixar seu gadget mais rápido, dá o aparelho na mão daquele seu amigo guro de informática, leva pra técnico formatar.. e nada, parece na realidade que as coisas só vão de mal a pior.
Até que o que você começa a escutar conselhos que arrepiam até os pelos da nuca dos mais ousados... "você deveria comprar um aparelho novo!".
Como assim? Acabei de comprar essa porcaria, mal tirei ele da caixa, não aprendi nem a mexer totalmente direito as suas funcionalidades, e o pior... nem terminei de pagar as prestações!
Você luta, tenta se acostumar com toda aquela lentidão e travamento, diz que é normal, que faz parte da vida, não olha para o lado quando seu colega de trabalho conta vantagem sobre o modelo novo que acabou de comprar.
Na realidade odeia ele a cada dia mais, e pensa nele como um metido arrogante que só quer contar vantagem.
O tempo passa, as coisas andam, e você precisa trabalhar, ou quando muito, viver sua vida. E como já dissemos anteriormente, isso implica em usar a tecnologia do qual você necessita plenamento. Ou, trocando em miúdos, é completo refém!
Mas como vítimas da síndrome de Estocolmo, no qual o sequestrado se apaixona pelo sequestrador devido a todo aquele stresse emocional, você repete, quase que como um mantra, não vou voltar para trás, não vou voltar para as cavernas, meu lugar é aqui, no presente, e não nos anos 80 com agendinhas de bolso, cadernetas e fichas para orelhão!
E num péssimo dia, vindo como notícia de acompanhantes de paciente de UTI, você se pega com seu querido aparelhinho falido, desconectado, offline, ou qualquer outra desgraça que o valha.
Não importa quanto tempo dura esse ciclo todo, desde a compra do gadget, seus pequenos defeitos, grandes defeitos, até a sua completa e inequívoca falência, você sempre vai ter a impressão de que ele é a cada modelo comprado mais curto, mais dispendioso, mais claustrofobicamente incômodo.
Parabéns, meu amigo, você foi mais uma vítima da obsolescência programada.
Vão tentar te convencer que você instala porcarias demais, vão tentar culpar a humidade do clima brasileiro, vão até falar, "ah, mas o do Joãozinho ainda está inteiro, e ele comprou antes de você!".
Acredite, eles arrumam um jeito de estragar o seu aparelho. O que os fabricantes de plástico não conseguiram fazer ainda, a indústria eletrônica faz há décadas, com primazia, que é transformar o produtos deles em degradável.
E pode fazer o teste, se quiser. Tire seu aparelho na caixa, ligue-o e o introduza na rede. Então guarde ele de novo na caixa, espere uns seis meses, então abra-o, ligue-o novamente e o reconecte na internet. Voilà, você acaba de ter um aparelho deteriorado de forma relâmpago, com todos os sintomas de um bem usado, travando e dando pau em tudo, sem nem mesmo tê-lo usado!
Mas não se preocupe, para tudo há esperança. Nas lojas, agora mesmo, acabaram de lançar um modelo novo, que funciona melhor, que tem novas funcionalidades, que vai te promover a mais rica experiência em informação e entretenimento.
Prepare seu bolso, e boas compras!
Vamos consumir.
Fazer a economia girar.
Obsolescência programada.
Tomá no cu.
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