sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Visitantes de Tongkonan layuk

Vitrine de mortos no penhasco
     Entre os moradores de Kalimantan e os de Molluccas, viventes da Indonésia, existe o costume de mumificar seus mortos e deixá-los com seus pertences habituais de moradores do além em um local onde possam bisbilhotar a vida dos vivos.
     Segundo sua classe, nobreza, e condições financeiras, podem deixar seus ancestrais desde em cavernas, túmulos de pedra esculpidos a até o máximo das honras voyerísticas: pendurá-los em penhascos com ranhuras feitas na rocha para esse fim.
     O processo é muito dispendioso para a família e costuma durar muito tempo, as vezes chegando a durar anos até o ritual de depositar em seu local de descanso eterno. Nesse ínterim, os mortos ficam hospedados nas casas cerimoniais que são feitas para reunião de família e recepção de visitas, as Tongkonan.
Tongkonan
     Tongkonan são casas construídas sobre estacas em forma de barco, e são tão imponentes quanto importantes e influentes forem as famílias.
     A intenção desses sítios é justamente a recepção e integração de pessoas, e não objetos de moradas.
     Apenas, no caso, para nossos amigos temporários, os mortos que estão sendo mumificados.
     Curioso imaginar então, que quando for visitar Sulawesi, ilha principal desse exótico arquipélago, terá chance de ser recepcionado por algum nativo que o convidará para tomar chá na Tongkonan de sua família, e não será muito difícil ver sentado nas cadeiras ao seu lado talvez duas ou três cadáveres embrulhados em panos e embebidos de ungüentos sagrados esperando seu cantinho ser terminado.
Dizem que em momentos próximos do final do ritual, alguns cadáveres seguem sozinhos o caminho até suas criptas a céu aberto.
     Quando isso acontece, avisam os habitantes locais que não se deve tocá-los, olhar em seus olhos e nem mesmo chamá-los pelo nome.
     Ninguém sabe o que acontece se essas leis forem quebradas: todo mundo lá faz muita questão de respeitá-las quando isso acontece, e imagino que eu faria o mesmo se presenciasse de fato algo tão insólito na minha frente.
     Coisa que acredito não poder vivenciar, considerando que os últimos relatos de múmias andando como zumbis já remetem a algumas décadas. Creio que hoje os mortos preferem sombra e água fresca desde que morrem, deixando-se serem carregados.


Nenhum comentário:

Postar um comentário