Querida Carol,
Estou na terceira semana de loucura por aqui.
Neve e lama viraram neblina e vento e chuva.
Está ventando tanto e está tão terrível lá fora
que meu aquecedor de querosene chega a uivar.
Fiz toda esta catalogação de idéias noite passada
num total aborrecimento desesperado de loucuras.
Mas em geral vem uma longa semana pela frente,
sem nada para fazer. Isso me levará a extremos inimagináveis.
Longe de você te amo do mesmo jeito.
Gordon.
Doce Gordon, meu amado,
O sanatório está roubando minha sanidade pouco a pouco,
mal consigo pregar os olhos com as tosses animalescas desses tísicos terminais.
Espero amanhecer para me embalar no canto dos pássaros da alvorada,
mas de nada adianta, se quando o sono vem,
é com as brutas enfermeiras que minha vigília torna,
com trocas bruscas de roupa e remédios goela abaixo.
Não sei viver sem você, meu amor,
que me dá luz e respiro para esse enegrecido e abafado quarto.
Se perco as esperanças de ti, é certo que morra,
pois nessa vida seca, pálida e repleta de veias,
não teria sangue em agulhadas afins pra me ressucistar.
Me tira da masmorra, me leva pra longe,
que quando leio suas cartas viajo pra muito além da feiúra que me cerca!
E se frágil e doente estou, é o meu sorriso interno por
sua felicidade longínqua de ter notícias minhas que leva força a minha alma,
e me garantirá uma morte digna de ter amor.
Doce Gordon, meu amado,
um adeus de sua
Carol.
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