Ninguém mais teve notícias de Charlene. Não faz tempo isso, mas não é normal não escutar a voz de Charlene, suas gargalhadas escancaradas, seu andar espalhafatoso, não ter a agressão visual de suas roupas exageradas por perto. Mundo monótono sem aquela perua chata por perto.
Charlene era bonita, por baixo daquela maquiagem horrorosa. E tinha uma cultura considerável extraída das dezenas de livros da loja de sebo do seu avô, que não gostava muito de usar em seus eloqüentes discursos ordinários.
Charlene estava sempre acompanhada, de homens bonitos e inteligentes, e também por que não dizer, de tipinhos asquerosos e rústicos, daqueles que parecia lhe aprazer mais. Adorava estar apaixonada, e se apaixonava por 3 ou 4 homens por vez, para ter certeza de que jamais estaria sem nada no coração. Custumava cobrar alguns cobres dos feios e rústicos por uma noite de amor em sua cama, dizendo que assim seria melhor, evitando que confundissem seu gentil gesto de altruísmo com falta de auto-estima e bom gosto.
Uma noite, daquelas que ficam estranhas porque venta úmido indicando uma chuva que não cai em tempo algum... no abafado da iminência da virada temporal, jogada em uma cadeira de um boteco local, foi que ela o viu pela primeira vez. Pelo menos é o que disseram as testemunhas: ela pareceu bem surpreendida em vê-lo chegar.... encarando de alto a baixo aquela figura sinistra, alta, pálida e esquelética de terno preto, chapéu e mala de caixeiro viajante. Desejou-o no primeiro instante. Não como mulher, pois parecia-lhe um demônio em pessoa, mas como uma cientista que coleciona espécimes, e essa ela ainda não tinha, mas havia de ter. (continua...)
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