Mariella colou seus lábios porque sabia assim melhor fazê-lo. Moça esperta que era, escutava pra aprender e vivia seu mundo sem deixar ninguém entrar lá: apenas tinha os ouvidos e olhos pra roubar coisas dos humanos.
Fazia sua lição de classe certinho, porque assim não precisava dar explicações nem fazer chamadas orais.
Eu queria ser que nem Mariella, mas falo pelos cotovelos, e sempre alguém me vê e me nota por isso. Ao contrário de Mariella, que de tão quieta passa desbercebida na maior das algazarras, apenas ciscando cenários e sensações para seu lindo castelo dos sonhos.
Um dia, em uma hora em que eu comia meu lanche da lancheira laranja que minha mãe me deu, fiquei quieta por um momento e vi o mundo passar. E foi nesse silêncio mágico de poucos minutos que vi Mariella existir, no meio dos outros alunos da escola. Por segundos, nossos olhares se cruzaram, e vi que ela sabia de sua existência. E, meio encabulada e curiosa por ser pega no seu truque, me deu um sorriso maroto, não com seus lábios colados, mas com seu olhar e coração. Desde então, Mariella é minha amiga de imaginações. Sonhamos juntas e vivemos separadas, mas nos encontramos nos pequenos bocados de tempo em que consigo me calar e só ouvir. E ver.
Linda Mariella! Queria ser como ela....
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