quinta-feira, 29 de outubro de 2020

foda-se a espécie humana

 Dor de cabeça.

comprei um termômetro, mas deu 36.7.

agora estou sozinho em casa,

na véspera das minhas férias.

as ações caem quase 6%

aquelas mesmas que eu não vendi.

e a C está tentando se dar bem no emprego novo,

estudando lá,

na casa dela.

tomei relaxante muscular,

um analgésico,

estou com o ventilador ligado no 2.

e o mal estar não passa.

seria covid?

ou percepção de que a vida está fora dos trilhos?

acabei hoje o alquimista de Paulo Coelho.

o que me fez pensar…

será que eu estou seguindo minha lenda pessoal?

assisti ao clássico de 62 carnival of souls.

no final a moça era morta,

e os espectros nas janelas nos assombram

até hoje no Netflix.

tem coisa que é clássico, e por isso é copiado,

e tem coisa que é copiado,

porque as pessoa tem preguiça de ler algo novo no livro de receita

e acaba por requentar a mesma polenta com frango de sempre.

eu queria não requentar nada.

mas como dizem por aí, as vezes a gente precisa

estudar os clássicos, antes de bater as nossas asas.

eu queria viajar.

pra longe.

tipo, uma praia deserta onde a água fosse azul

e a cerveja fosse gelada,

e de preferência pagável,

e que a sombra do guarda-sol

não mudasse muito de posição enquanto eu brincasse com a areia

entre os dedos do meu pé.

queria um short, um boné e um óculos de sol,

sentir a maresia,

o cheiro do protetor,

e simplesmente me embebedar,

até quando Deus quisesse.

mas, no entanto

estou no meu quarto,

possivelmente com covid,

(a Europa toda está novamente com covid),

e eu não tenho outra alternativa

que não a de me entreter na velha cidade grande de sempre.

mas não faz mal.

eu posso lidar com isso.

certamente que posso.

não sou mais adolescente.

não preciso mais de amigos pra tomar minha cerveja,

não preciso de academia pra pegar meus pesos,

não preciso de palhaço fazendo careta pra rir.

aliás, sou autossuficiente em risadas.

rio sozinho, tudo dia.

as vezes me sento no sofá do meu apartamento,

de frente para a televisão,

e minha parede amarela,

a que fica atrás da televisão,

(porque as outras são cor de gelo),

e rio sozinho.

não soa natural no começo,

e nem é pra soar.

eu começo de forma tímida,

rá, rá, rá,

e o misto do descompasso com a timidez

soa hilário, e eu acabo rindo de fato.

as vezes me esbaldo em gargalhada,

e me pergunto o que o meu vizinho de parede

acha de mim.

acha que sou bobo?

acha que assisto comédia?

eu odeio comédia. filme, livro, meme…

mas eu não ligo dele achar que assisto comédia.

melhor que ele imaginar que sou um maldito sociopata esquisito.

daqueles que guardam pedaços de cadáver na geladeira.

deixa ele achar que assisto chaves.

eu não preciso provar nada pra ninguém.

olha só pra esse blog.

vazio.

sem leitores.

nem eu mesmo leio o que escrevo.

gosto da ação.

gosto da verve.

gosto do pulsar das teclinhas nos meus dedos.

mas não dou a mínima para o que eu escrevo.

já tentei reler alguma coisa.

já tentei inclusive mexer em algo que escrevi,

mas não deu muito certo.

ficou uma bosta.

porque minhas ideias vem uma encima da outra,

elas encavalam

e lapidar ideia velha funciona pra mim

como passar espanador no touro do wall street.

deixa o tourinho lá empoeirando,

que as mãos dos turistas removem sozinhas o pó.

então

já deixo claro

esse texto,

ou qualquer outro,

não, será, revisad,o

ontem, eu briguei com o mundo.

sabe, o trivial,

quando você discorda da forma como todos levam a vida,

trumpbolsonaroamazôniacovid e tal,

e resolve simplesmente fingir que não é mais parte do time,

sabe o que quero dizer?

da humanidade.

não sou mais humano,

e ponto final.

o que pode acontecer, se eu simplesmente me considerar não humano?

ainda posso regar minhas plantas?

posso andar nas ruas,

beijar a bunda das estátuas de mármore no louvre,

comer o cu do saci nas bodas da meia noite?

se eu posso,

então, não vejo o porque de ter que me considerar ser humano.

sou um eremita da minha espécie.

e ponto final.