sexta-feira, 13 de julho de 2012

Dias Herméticos

   Quarta-feira fiz uma deliciosa torta que ninguém irá comer. Quinta-feira sem motivo aparente desci 2 estações de metrô depois da minha habitual, só para voltar a pé, e no caminho vi um mercado, entrei e comprei uma pimenteira e um pacote de chá de boldo. E quanto a sexta? 13. Só Deus sabe como será o fim de semana, mas pra mim não interessa.
   Por quê não interessa? Simples. Porque cansei de me interessar pelas coisas, pelos tempos, pelas pessoas, pelos planos, pela vida. Não estou deprimido, triste ou descabido, e pelo contrário do que pareça, continuo sendo um inconformado. A questão é que chega um momento que acredito que todo ser humano com um mínimo de ócio* passa em que percebemos que tudo o que fazemos é um tremendo clichê, um imenso lick de guitarra mundano**, e que não importa quão rápido e longínquo fujamos da maré, sempre seremos pegos por ela. Ou seja, não conseguimos ser originais, únicos, ou qualquer outro lero-lero. Sempre acabamos parte do ciclo vicioso, como diria Belchior, como nossos pais.
Por quê fiz uma torta pra ninguém comer? Por que chutei um copo de leite de quase um litro no tapete só pra limpar depois, por quê desci do metrô pra comprar uma pimenteira que não preciso? Pra ser excêntrico? Talvez. Mas isso não me faz nem um pouco diferente do grupo de habituais paranóicos-maníacos-deturpados-paulistanos do qual infelizmente fujo, mas que vejo agora, faço parte.
   Quero correr, fugir do meu emprego, da minha cidade, dos meus amigos, da minha vida, por um pouquinho só, apenas o suficiente para olhar de fora o sistema o qual faço parte, e ver se realmente sinto falta de algo. Porque dinheiro ou bem material nenhum no mundo me agraciam com a tentação pela longevidade. Quero explodir, quero derreter, quero ser nada, porque a vida inteira eu sofri almejando ser tudo! Ser bombeiro, engenheiro, padeiro, líder intelectual, ser gostoso, ser lindão, ser famoso, ser o maior amigo dos amigos do mundo! Agora quero Isso, esse Isso único, o ser Nada. Nem que seja só por hum ano, 10 dias ou dois segundos. Tenho certeza que só chegando Nisso é que poderei um dia saber se realmente quero alguma coisa. Talvez ser um clichê, por exemplo. Mas um clichê realizado.


*quem não pára(SIC) pra pensar não sofre, mesmo porque não pensa. 
**homenagem ao dia mundial do Rock. Que dia bobo. Prefiro o dia municipal do Forró.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário