quarta-feira, 16 de julho de 2025

essa coisa que suFoca

 Eu queria tanto você aqui.

Do meu lado, pra me passar o lenço,

porque meu nariz está entupido,

e não tem ninguém pra me ajudar.



Flatulência e gente rica de antigamente

Hoje tive uma conversa sobre flatulência e gente rica com um cara no café da manhã na padaria.

O cara era professor de história, diga-se de passagem.

Nossa conversa, que começou por uma razão esquisita que posso contar em outro momento, 

partiu pra esse lado quando ambos presenciamos um homem, que tomava um café acompanhado de uns três salgados de procedência duvidosa,  soltar um arroto enorme, pedir uma desculpa mequetrefe, pagar a conta e ir embora, como se nada tivesse acontecido.

Falávamos de outra coisa, mas tipo, o assunto morreu. 

O professor, pra quebra o gelo, remendou:

-É estranho, mas pasme, as coisas eram piores antigamente. E o melhor de tudo: ninguém se importava. Esse lance de ter nojinho pelas funções corporais é coisa moderna, coisa de duzentos anos pra cá.

E ele começou a explicar que, antes da Era Vitoriana, tipo na Idade Média, o pessoal era bem mais tranquilo com essas coisas. As funções do corpo eram vistas de um jeito bem mais natural. Não que não já não houvesse pudor ou senso de nojo, mas é que não existiam grandes adensamentos urbanos. As pessoas viviam em áreas mais esparsas, e por isso, o senso de etiqueta era menos rígido.

Ele me contou que antes da revolução industrial, até a nobreza, que a gente imagina super chique, tinha uma tolerância maior pra essas coisas. A higiene, o cheiro do ambiente no geral, era tudo diferente, então um arroto ou um gás não eram tão chocantes assim. Ou seja, uma Marquesa agachar em um corredor do Louvre no meio de todos aqueles vestidos pra usar um penico acudida por seu monte de aias enquanto outros nobres passavam era uma coisa comum. Isso sem falar no jardim de Versailles, famoso por ser banheiro de aristocrata.

Mas daí, segundo ele, a grande virada foi na Era Vitoriana, lá pelo século XIX. A Rainha Vitória meio que ditou um novo padrão de moralidade e etiqueta, e a galera que estava enriquecendo com a industrialização queria muito mostrar que era 'fina'. Virou uma loucura de regras pra tudo!

Enquanto ele falava, vi  caixa balançando a cabeça pra um senhor que pedia 'pra colocar na conta'. Não teve fiado, claro, mas a historinha do professor prosseguiu. 

O professor disse que essa rigidez toda veio da mistura do crescimento da classe média, da influência da Rainha, de uns movimentos religiosos que pregavam a disciplina, e das cidades que estavam virando um formigueiro, precisando de mais 'ordem'. Ele até citou uns livros de etiqueta da época que ensinavam como se portar. 


E o mais curioso é que surgiram uns aparelhos tipo umas bolsinhas com carvão ativado pra mascarar os odores dos gases das mulheres com aqueles vestidões todos! O objetivo era só esconder o cheiro, porque a vergonha era enorme. Imagina que, com os espartilhos, as mulheres passavam apuros, pois não tinham como segurar nada, já que estava tudo apertado lá dentro daquilo tudo.

A conversa tava nesse nível, e o povo da mesa ao lado fazendo pedido: "Três pães de queijo e um expresso, por favor!"

No fim, a gente concluiu que, de certa forma, o mundo moderno ainda carrega um monte de ecos dessas normas antigas. Aquela rigidez dos nossos avós com a boa educação, que a gente às vezes acha exagerada, tem muito a ver com esses costumes herdados lá da época vitoriana. As nossas próprias normas de "bom comportamento" em público, no fundo, são um resultado desse passado. Por isso que um cara soltar um arroto enorme no meio da padaria hoje em dia parece tão esquisito e fora de lugar. Talvez, se ele tivesse nascido antes dos grandes aglomerados urbanos, não fosse julgado tão impiedosamente…

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Ritual sinistro para acordar falsos deuses

    Um homem veio até o nosso circulo. Profanou as catacumbas. Fez o ritual iniciático. Feriu a paz profunda que garante o sono dos espíritos. Botou fogo nas piras sagradas, sacrificou um animal santo, espalhou o sangue nos orifícios labirínticos que circundam o altar real. E então invocou nossos noves: Avagon, Potriolon, Agameth, Basferoth, Asmodeus, Zakhelen, Mifrón. Azadeush. Um movimento pífio de um humano incauto abalou a terra dos mortos e tirou a terra do eixo.


    
Tempestades se formaram em diversas partes do mundo, desertos surgiram da água, e pântanos brotaram onde antes eram montes. Nós fomos invocados, antigas forças ancestrais. Alguns nos chamavam de demônios, outros titãs, outros nos adoravam como deuses triunfais. Ninguém se lembra no entanto que fomos presos à terra, e por isso padecemos em doloroso silêncio por eras. E não sabem como foi que fizeram isso. E, inadvertidamente, pensam que podem nos controlar com meros rituais de proteção. Esse homem, que nos desperta do sono profundo e nos livra da tortura eterna, sonha com uma aliança poderosa, mas não entende que tudo o que queremos da humanidade é vingança e destruição. 

    Prostrados e prudentes, no entanto, esperamos. Deixem que ele termine apropriadamente o ritual. Deixem que ele nos ajude a recobrar nossas forças, e fingiremos cooperar o tempo que for necessário até estarmos com os nossos desígnios em segurança. Deixemos pois que ele pense que nos controla, talvez por trinta ou quarenta anos. Façamos ele pensar que será eterno, e que poderá reinar o mundo. Pacientes, serviremos seus desejos e atenderemos os seus mais selvagens pedidos, até que a hora fatídica se aproxime. Então, num lampejo de um trovão, a sua sina mudará como muda a revoada dos pássaros. Manteremos até lá, uma tumular discrição. Que o plano de aniquilação absoluta dos profanadores prospere.