quinta-feira, 10 de julho de 2025

Ritual sinistro para acordar falsos deuses

    Um homem veio até o nosso circulo. Profanou as catacumbas. Fez o ritual iniciático. Feriu a paz profunda que garante o sono dos espíritos. Botou fogo nas piras sagradas, sacrificou um animal santo, espalhou o sangue nos orifícios labirínticos que circundam o altar real. E então invocou nossos noves: Avagon, Potriolon, Agameth, Basferoth, Asmodeus, Zakhelen, Mifrón. Azadeush. Um movimento pífio de um humano incauto abalou a terra dos mortos e tirou a terra do eixo.


    
Tempestades se formaram em diversas partes do mundo, desertos surgiram da água, e pântanos brotaram onde antes eram montes. Nós fomos invocados, antigas forças ancestrais. Alguns nos chamavam de demônios, outros titãs, outros nos adoravam como deuses triunfais. Ninguém se lembra no entanto que fomos presos à terra, e por isso padecemos em doloroso silêncio por eras. E não sabem como foi que fizeram isso. E, inadvertidamente, pensam que podem nos controlar com meros rituais de proteção. Esse homem, que nos desperta do sono profundo e nos livra da tortura eterna, sonha com uma aliança poderosa, mas não entende que tudo o que queremos da humanidade é vingança e destruição. 

    Prostrados e prudentes, no entanto, esperamos. Deixem que ele termine apropriadamente o ritual. Deixem que ele nos ajude a recobrar nossas forças, e fingiremos cooperar o tempo que for necessário até estarmos com os nossos desígnios em segurança. Deixemos pois que ele pense que nos controla, talvez por trinta ou quarenta anos. Façamos ele pensar que será eterno, e que poderá reinar o mundo. Pacientes, serviremos seus desejos e atenderemos os seus mais selvagens pedidos, até que a hora fatídica se aproxime. Então, num lampejo de um trovão, a sua sina mudará como muda a revoada dos pássaros. Manteremos até lá, uma tumular discrição. Que o plano de aniquilação absoluta dos profanadores prospere.


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