sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Luta e dança pela rima

Não sei fazer poesia
Que poesia se faz com rima
e não rimo e não partilho
o que crio feito esgrima

Que cruzo com en gárde
depois de ter touché
o fio do mundo 
no fio do florete.

uma luta eterna, 
de espada, de estratégia,
e a luta do poeta,
do escritor e sua rima.



Quem ganha, quem perde,
é um flerte, 
pois há muito ganhou
quem perdeu guerra em tempos de paz,
e há muito perdeu, 
quem ganhou paz nos tempos de guerra. 

Porque não se pode lutar co'a corrente,
deve-se lutar na maré,
ganhar e perder, sê influente,
a rima e o poeta, santa-fé.

Não sei fazer poesia.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Perigosa profissão sem motivo nem salubridade

    É o quarto ferimento que lhe inflingia naquele dia, e porra, sentia o gosto de sangue na garganta!  
    Revólver com duas balas, faca na cintura e respiração à meio pau no pulmão. Como odiava correr depois de ter fumado um maço inteiro de Marlboro vermelho! Mas agora tinha que se concentrar, que tudo estava por um fio, e era por um fio que gostava de viver a vida. Lógico que a adrenalina era boa, mas tem dia que é bom assistir cine corujão com uma cerveja na mão brincando com o gato sujo, mas esse não era o dia. Agora era hora de agir.
    Escutou passos no galpão escuro, viu gente arrastar passos e imaginou gente, mil inimigos passando sinal de zap uns aos outros para acabarem com sua raça. Ah, doce momento antes do fim, que sempre se revertia para o seu lado.
    Porque ele era assim, se imaginava um personagem de graphic novel que sempre saia vivo no final.
    Essa idéia fazia com que se mantivesse com a moral alta, com Guns`n`Roses na cabeça ao estilo Welcome to the Jungle no fundo e que foda-se o resto! Carpe diem e body count no chão...
    Respirou o último suspiro, sentiu o hálito de nicotina, se arrependeu de não ter tempo de acender um último cigarro, olhou o relógio, 2:30, fez o nome-do-pai meio torto, checou o gatilho, sentiu a jaqueta se arrastando no concreto cru atrás de si, viu que o coturno estava bem amarrada no pé, fechou os olhos por um segundo e recitou seu mantra: "um dois três, daqui a pouco escapo ileso, rio em casa e derrubo quatro pra depois comer cinco, com os maiores peitos do mundo!". E correu para o abate...

Assunto

    Qual é o assunto do dia? Qual é o assunto da conversa?
    Converso sobre qualquer tipo de coisa, vício, hobbie ou doença. Falo sobre o tudo, o nada e o entremeio.
    Perco meu tempo com o trivial, discuto o óbvio e me atrevo a evocar citações que remetem ao vazio.
    Tudo pra ganhar uma briga, arrancar um elogio, levar um tapa na cara. Acho que isso é comum aos intelectuais hiperativos. Intelectuais, falei? hahahahh, ai que vergonha! Que vergonha de mim, que gosto de puxar um mundo egocêntrico e me auto-aceitar como altruísta. Católico-apostólico-romano com ênfase no signo de escorpião, ascendente em peixes, filho de Ogun e descendente direto de Buda.
    E foi uma criança Índigo que me abriu os olhos pra isso. E não foi você, não foi você.

Teoria inconcebível sobre os cíclos recursivos

    Tenho uma teoria sobre algumas pessoas que vivem cíclos em sua vida que de forma recursiva se realimentam até a gênesis do processo, e depois seguem eternamente suas repetições até que algo em si quebre essa rotina. Mais a frente falarei sobre o algo.
    Agora, me dedico exclusivamente ao ciclo.
    Conheci pessoas que entraram em minha vida e que depois sumiram, por razões diversas, mas que me levaram a conhecer outras pessoas que depois levaram à mesma ação de uma forma montanharussesca, até o ápice do meu conflito existencial.
    Daí o último elo da apresentação acabou se fechando no início do que era antes.... mas incrível, tudo começa novamente com novos personagens, mas de personalidades exatamente correlatas a como tudo começou! Viagem intrísseca ao álcool exacerbado ou à escassez de companhia de qualidade? hahahahahahahahahahaha. Truco! Truco marreco! Truco! Pede seis!

Olhar mais altivo dos que realmente vejo.

    Quem me dera ter você mais uma vez aqui, pertinho do meu peito, que tem defeito de achar que só ama você.
    Quanto custa olhar sua vida mais de perto pra mim, que só vive no aquário do seu universinho blasé?
    Tudo é fácil quando estou longe, porque penso que posso fazer de mim o que bem quero.
     Mas tanto tempo de 3 minutos longe dos teus exageros e enfados comentários do cotidiano imutável me faz ansioso de ser múmia viva nessa vida de movimentos aleatoriamente invariáveis.
    Um passado inteiro sem futuro imediato, temo que me presenteie infinitamente com um presente solitário lotado de sua total e completa indiferença. Que nunca dispensei, e que sonho a cada dia junto ao meu travesseiro barato de espuma viscoelástica.
    Todo o dia que passa, sobrevivi mil segundos de me safar da sua insensatez. Porque de fato não me livro, que se livrasse ensandeceria de vez. Afinal, quem troca o forno à lenha pelo microondas, consegue ter forno à lenha sem as microondas? Essas suas microcurvas blasé...

Eu matei minha mãe (J'ai tué ma mère, 2009), de Xavier Dolan

    Introspectivo e estridente. A intenção não é gostar, julgar ou entender. Mas sentir. O relacionamento de um adolescente com sua mãe, sacolejando na linha tênue entre amor e ódio.
    Segredos que se conta para estranhos, mimos e desafetos por ações indevidas, imprecauções de ambos os lados. Quem está certo? Alguém está certo? A vida real está cheia de caminhos tortuosos, mas vista com olho clínico, repleta de poesia.
    O estranhismo é que se busca coerência na história, lógica, razão do autor em se meter na empreitada de ser quase autobiográfico. Mas ele privilegiou o meio, o antagonismo entre mãe e filho, a hostilidade e ojeriza dos transeuntes que permeiam os bastidores dos acontecimentos.
    Em um dia sereno, solitário e pronto para cinestesia, recomendo uma passada no cinema para assistir "Eu matei minha mãe", de Xavier Dolan. Mas vá sem expectativas, só olhos ouvidos e coração. Uma produção canadense, em francês de Quebec.

Difícil poema sem esquema, sem trema.

Nada é puro para o belo.
Nada é duro para o celo.
Tudo é vago sem cabresto.
Tudo é pago com arbesto.

Sem timento não aguento.
Sem lamento só convento.
Aguenta e contenta.
Chora e frequenta.

Viva e perdura.
Morra a brandura!

Tudo é fácil no fosco.
Difícil é viver no tosco.

Colorido já apagou.
O cinza imperou.

Diminuo o rítmo.
que estimula.
Estimula
simula.
mula. 

A grande carregadora
de males mundanos
de versos,
de berços
de terços
apreços.

Chora que o puro não é belo.
Que não existe duro pro celo.
Ordens vagas não tem cabresto.
E o dinheiro é amianto. 

Ami anto.
Câncer por arbesto.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Queimando a estrada...

    Eu, j. e mais uns dois candangos. Rock no último e a velocidade de cruzeiro calibrada com a graduação alcoólica do motorista. 19xx e muita gasolina barata pra cruzar de qualquer lugar pra lugar algum.
    Milhares de quilômetros pra rodar e muita praia pra conhecer. Muitas gatas pela frente, milhares pra trás... já vez a viagem dos sonhos com alguns amigos?
    Grana não importa, tempo se arranja, é assim que a gente pensa desde que saiu de S. há cerca de uns 2 ou três meses atrás. A adolescência acaba rápido bixo, e se não curtir cada segundo agora, não vá se arrepender depois.  
    Um ônibus acaba de passar por nós, excursão da fanfarra da escola: jovens uniformizados, tubas e clarinetas na janela. Logo à frente, uma kombi pintada com pincel meia-boca, alguns tribais e inscritos intraduzíveis com cores lisérgicas. Parece que a parada vai ser boa, quem não tá de black power ou dread não consegue esconder o sorrisão de olhos vermelhos. Muito bagulho, suponho...
    Mais alguns metros, paramos em um posto sujo com cascalhos e algumas poças de lama no acesso. Sujo de poeira vermelha, só uma das quatro bombas funcionavam pra abastecer. J. levou nosso Maveco abastecer, enquanto fomos pra conveniência tomar um pouco de café.
    Um dos candangos, que tinha algumas moedas no bolso, chamou a garçonete com propriedade: 2 cafés servidos pra dividir querida, e o resto de pão francês com manteiga! (CONTINUA...)

Cinza essa cidade. Como o resto da fogueira do seu funeral.

      Esperava o quê, dessa merda dessa cidade, que nunca te acolheu, e nem teus cidadãos?
    Aqui a coisa não funciona como na tua casa, com toda aquela cortesia e afago nos ombros dos fracos, que de mimados acabam mais doentes e débeis de carência.
    Aqui, nessa cidade gris que sangra enxurradas de esgoto nas sargetas e meios-fios, só as ratazanas fortes sobrevivem.
    Não espero nada de você, mas se quiser continuar vivo e são nesse amontoado de pedras e concreto, é melhor arrumar um hobbie rápido. Que aqui a cabeça pira se você pára. E tenho certeza, você não vai querer parar. amontoados de metrô, pontes e sonhos numa deformidade caótica que só quem respira fumaça por muito tempo compreende.
    Vai, me dá um cigarro e passa o resto da garrafa de vodka, que essa daí dá pra uns três beber, não bebe sozinho, que dá azar.
    Vamos, passa esse isqueiro da china, pra eu ver se ainda tem gás.
    Não acho você um mal rapaz, mas acho que com esse jeitinho de bom moço não vai a lugar nenhum.
    Uma vez minha mãe me disse que os bons morrem cedo, que é pra deixar espaço pros mais espertos terem o que comer.
    Não espera que isso que ela disse não sirva pra você: vai, faz uma cara de mal, quero ver seus olhos frios pra mim, olhos sagazes e gelados!
    É isso moleque, você tá fazendo do jeito certo!
    Agora vem, me pega pela cintura e me chama de sua mulherzinha. Não, não morde não, que tenho mais gente pra atender ainda essa noite. Pára, pára seu louco, não me bate.
    Aaaah, alguém, socorro, vem alguém socorrer, aaaaaaaaahhhh!!!! Merda! O cara bateu as botas! Falei pra ele que não aguentava emoção forte?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Buenos Aires querida. Terra, água e fogo buenos e queridos lá também.

    Já viajou pra algum lugar que te mostrou coisas de você que já tinha esquecido? Do churrasco de infância, do medo do beijo roubado, do roubo do coração afastado que fica perto de novo, das mágoas afogadas, dos ventos perdidos que trazem memórias longínquas, da terra natal que visita todo o sempre mas nunca mais está lá como era pequenino?
    Fui pra Buenos Aires, e lá senti, vi e vivi coisas que nunca mais vou ter pertinho de mim de novo da minha infância. Não sou argentino, rsrs, mas aquilo teve pra mim brilho da minha infância.
    Da minha adolescência, da minha solidão de andar sozinho em trem, do meu cemitério quietinho, com galhos que eram só meus nas noites de São Roque.
    Ah, dane-se, sorrio, dane-se, dane-se! São sentimentos inexplicáveis pra quem não tinha mais o que fazer do que viver aquele lugar!

Lábios selados de Mariella

     Mariella colou seus lábios porque sabia assim melhor fazê-lo. Moça esperta que era, escutava pra aprender e vivia seu mundo sem deixar ninguém entrar lá: apenas tinha os ouvidos e olhos pra roubar coisas dos humanos.
     Fazia sua lição de classe certinho, porque assim não precisava dar explicações nem fazer chamadas orais.
     Eu queria ser que nem Mariella, mas falo pelos cotovelos, e sempre alguém me vê e me nota por isso. Ao contrário de Mariella, que de tão quieta passa desbercebida na maior das algazarras, apenas ciscando cenários e sensações para seu lindo castelo dos sonhos.
    Um dia, em uma hora em que eu comia meu lanche da lancheira laranja que minha mãe me deu, fiquei quieta por um momento e vi o mundo passar. E foi nesse silêncio mágico de poucos minutos que vi Mariella existir, no meio dos outros alunos da escola. Por segundos, nossos olhares se cruzaram, e vi que ela sabia de sua existência. E, meio encabulada e curiosa por ser pega no seu truque, me deu um sorriso maroto, não com seus lábios colados, mas com seu olhar e coração. Desde então, Mariella é minha amiga de imaginações. Sonhamos juntas e vivemos separadas, mas nos encontramos nos pequenos bocados de tempo em que consigo me calar e só ouvir. E ver.
    Linda Mariella! Queria ser como ela....

Martírio dicrônico

Sumi.
Não respondi sua dor.
Passei
mais dos limites
que já pude ousar,
muito mais longe 
que alguém podia supor.

Mas não quero que 
faça você pensar
que não estou aqui 
com você dentro de mim.

Apenas sumi,
que se faço isso é pra sentir
no meu peito,
nossa dor
de não juntos estarmos.

Uma nota. Agora consta-se nos autos.


Sua nudez artística parecia arte punk-rock: desagradável ao olhar e desrespeitosa aos sentidos.

Vertigem dos candelabros que não estavam lá

Um ponto para se concentrar
no momento da vertigem.
Que tudo é fuligem,
e se esvaecem os pensamentos vãos.

Um ponto, é tudo que preciso
pra deixar do tonto para o real,
que sonhar também é normal,
desde que se queira de fato sonhar.

Presentes, mil presentes
todos ganhos um por um,
que bom, se pudesse ter eu mais algum
porque passados e futuros tenho-os todos.


Todos eles  girando tortos,
que me enjoam de vertigem,
de fuligem, de emoção virgem,
e de coisas que não quero me dispor.

Quero sim mais um presente,
que seja claro, eloquente.
Porque me entorna o conto
ganhar futuro, vangloriar passado

e depois não ter o que viver.
Assim me frustro.

Me dá um ponto pra mim focar:
presente é onde eu quero estar.
e ir
e voltar.
Presente.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Desabafos a um amigo (lamentações em primeira pessoa)

a dor fica pra você, caro amigo...
    Minha mulher me deixou. Pela quarta vez, nessa década. Acho que agora, sim, agora foi pra valer.
    Virada do milênio, queda do muro de Berlin, recessão fome e desemprego. Passei por tudo, sem tremer sequer o sobrolho. Lógico que dói, que lacera, mas essa de terminar comigo, foi demais.
    Agora sim eu tô na merda... já disse que passei até fome e não reclamei, mas essa agora? Não sei se ela tem outro, pensou em outro, ou comparou o amor da vizinha com o nosso. Mas decisão foi tomada e cumprida, e não a vejo faz seis meses.
    Porra, mais uma vez, a quarta vez. E ela, que disse que só avisava três vezes, mas voltou na terceira, pensei, agora acabou essa frescura de avisar e fica comigo de pra sempre sem encanar.
    Mas não é que ela voltou com essa mania de novo, e foi embora pra nunca mais voltar? Já até ouvi dizer que está com alguém, lavando cueca de outro macho. Mas não fui atrás saber. Não me interessa.
    Enquanto tiver cerveja, cigarro, e você, cactus, ninguém mais pode fuder nossa vida. Sem mais solidão. Eu vou abrir outra breja bixo, quer um pouco de água?

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Se faço hoje é pra amanhar lembrar.

Me dá um beijo bem daquele jeito
que só a gente que sempre ama acaba sabendo dar?

Um beijo quente que vem daquele fundo da alma e papitando chega com língua de machucar!

Ah, que saudades de um beijo desse que eu nunca tive, porque beijo passado nunca é tão bom quanto o que vai chegar!

Encontros casuais

Sonho estar do lado da rua em que você vai estar quando andando por vielas tortas e escorregando por avenidas toscas vou te encontrar.
Aconteça isso que no mesmo instante te abraço forte emocionante e num vislumbre do teu vacilo vou te beijar.
Já está esperado aquele tapa estabanado na minha cara e o grito ou silvo que com certeza vai lacerar cada ouvido que estiver nesse lugar.
Mas já acredito que entre esse momento em que me encontro e um outro qualquer em que me remeto seu coração já baterá em outra vítima envenenado com a delícia que se instaurará em seu paladar.
Daquele beijo que roubado te apaixona e inconformado te emociona mas com certeza serei enfático que só funciona se daquele lado da mesma rua você em mim se esbarrar!

Noir perplexo

Um homem andando na rua cuspiu no chão, acendeu seu charuto e depois perguntou ao menino dos jornais:
- E a respeito daquele crime, sabe algo mais?
- Não senhor, com certeza tudo o que sei saiu nos jornais. 5¢ por sinal, acabou de ser impresso!
- Obrigado garoto, mas só leio jornal de ontem. Meu cérebro empírico obriga-me a comprovar os fatos antes de sabê-los por noticiários vis.
- Então o senhor me desculpe se puder te confirmar o que já sabe sobre o tal crime que me perguntou. Empiricamente está comprovado que alguém fez algo que parecia fora da lei um tempo atrás, e por isso noticiaram nos jornais!
- Cala a boca e me arrume alguns fósforos que meu charuto apagou!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Inspirando o novo...

Você me inspira querida,
Isso é fato comprovado.
Quando me expirar,
Vai ver que saio azul do seu pulmão,
tal qual fumaça de cigarro!