quarta-feira, 16 de julho de 2014

A mão esquerda da escuridão, de Ursula K. Le Guin

  O prefácio do livro dessa autora é o máximo. Ela diz que geralmente a ficção científica se dá por meio da extrapolação. Então, exemplifica que doses pequenas de alimentos ingeridos diariamente por seres humanos normalmente causam câncer em ratos em doses cavalares.
  E então compara isso à ficção científica extrapolada, que sempre torna o mundo futuro em algo caótico e potencialmente perigoso.
  Depois, Úrsula nos diz que existe também a ficção científica feita através do sentimento da época, ou seja, o que o autor sente das relações humanas no presente, e a experimenta em um contexto alienígena, não existente em lugar nenhum de universo que não seja sua própria mente criadora.
  Ela separa o profeta, alguém que prevê o futuro gratuitamente, o vidente, que o prevê por honorários, o futurólogo de forma assalariada, e então diz que o escritor de ficção científica não é de nenhuma forma comparável a eles, pois este vive da mentira descarada.
  O escritor não prevê nada, ele ao contrário inventa, ou seja, mente algo baseado como os seus conhecimentos e premissas de mundo presente.
  Cita no final o eterno paradoxo da escrita, que é utilizar-se dela para fazer com que pessoas pensem em coisas indizíveis em palavras. 
  A mentira, do ponto de vista semiótico, o símbolo no ponto de vista psicológico e a metáfora no sentido filosófico são as múltiplas facetas que um amontoado complexo de palavras pode assumir para criar a ilusão de um novo mundo que jamais existirá na cabeça do escritor e seu leitor.
  Como diria Mário Vargas Llosa em um ensaio, o romance não nasce da simples escrita de seu autor, mas na primeira leitura de sua obra. Excitante perspectiva.

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