quarta-feira, 16 de julho de 2014
Esboço das terras negras de Alice
Sobre os escombros e funéreos passeares de almas, restos de gente meio viva e outras cousas de aspectos pútridos e causticantes, onde nos subsolos habitam grandes répteis metálicos de velocidade e ferocidade inimagináveis, apesar dos dóceis caminhos previsíveis, um lugar capitaneava os seres daquele mundo, em meio aos grandes e incomensuráveis quênions de concreto. Um lugar em que os seres disformes e mutantes ganhavam espaço para exercerem suas barganhas pela sobrevivência, e nada era de fato vil ou suficiente desnecessário para tornar-se desperdício. Muitos vinham de longe para os negócios nesse vale sagrado, outros apenas passavam para ir até os outros pontos do reino. Tudo passava por ali, e nada lhe fugia da percepção. Difícil é imaginar como tanta coisa podia se mexer ou respirar o mesmo ar nesse ambiente infestado de moléstia e vida extrema fervilhando, mas tente, mesmo que por um instante, mesmo que tenha de buscar na mais profunda e ardilosa cepa de seu inconsciente. Quando num lapso de vislumbre conseguir ver algo disforme remexendo-se em vermelho e negro como as entranhas de um porco expostas à céu aberto, quando sentir o calor humano latejar-lhe a têmpora como uma enxaqueca cegante, daí pode dizer que teve uma centelha de consciência do que é esse inferno terrestre, conhecido pelos nativos e aventureiros como "A praça da Sé".
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