quarta-feira, 16 de julho de 2014

Masoch, o escritor que discursava

Em um tempo não muito distante, também não muito remoto, um escritor escreveu um livro contando uma história. 
writer-wretch  Era uma boa história, pensou, ao ver seu trabalho concluído. 
  Porém não sabia de fato como faria para que as pessoas lessem essa obra prodigiosa que custara lhe grande trabalho para sua construção. 
  Desolado, por ter em mais apenas seu original e nada mais, bem parentes bem amigos que gostassem de ler ou lhe pudessem indicar uma editora,  Masoch, esse é o nome que  lhe daremos, estava desolado, imaginando o ostracismo eterno de sua recém nascida história. 
  Um dia, voltando do trabalho e sem nada de importante para fazer, sentou se ao computador com café e rosquinhas nas mãos. 
  Olhou sites cotidianos, fofocas de celebridades e outras tantas trivialidades às quais estamos tão acostumados a doar nosso escasso tempo de vida útil. 
  Um link então o remeteu à uma página do you tube onde se encontrava um vídeo em que um aspirante a ator encenava um monólogo em frente à um pano preto. 
  A encenação era sofrível e o texto escolhido era péssimo, mas serviu de inspiração para o grande momento de epifania que Masoch teve. 
  Ele pensou em narrar seu livro em um grande vídeo com todas as vozes, tempos e pausas dramáticas que idealizara para seu texto. 
  Naquele dia e nos seguintes, Masoch nada mais fez do que preparar se para a narração. 
  No início, narrou em seu quarto, com alguns problemas de áudio ou de buzinas provenientes da rua em frente ao seu apartamento. 
  Depois, seus conhecidos e parentes começaram a ficar curiosos e decidiram bisbilhotar sua recém atividade secreta. 
  Com o tempo, porém, Masoch arrumou jeito para enfrentar cada um dos pequenos empecilhos que atravancavam seu projeto e deu prosseguimento â um fluxo consistente de trabalho. Masoch até se deu ao luxo de gravar trechos em bares onde fumaça cigarros, subindo montanhas, andando de bicicleta e até no consultório de sua dentista. 
  Todos que o viam achavam no louco, mas que mais deveriam fazer se sua loucura era inofensiva e pouco incomoda para os outros? 
  Falar por falar sozinho, por isso inventaram os celulares. Pois bem. Após um ano de serviço, pós termo ao seu projeto. 
  Tinha em maios um vídeo de quase trinta horas contendo a completude de sua obra. Narração, imagens bonitas e condizentes com o texto, até alguns efeitos especiais sonoros e demais  penduricalhos ornamentais. 
  Porém não sabia de fato como faria para que as pessoas assistissem esse vídeo prodigioso que custara lhe grande trabalho para sua construção. 
  Então depois de pensar por um dia inteiro, decidiu contratar um agente. Fim.

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