sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Pra que se ouse peço que decida!

Precisamos tomar uma decisão. Qualquer uma que seja, porque alguém está tomando por nós. Veja os lírios, veja as margaridas nesse jardim lindo que é coisa de pousar anjos. Quem foi que mandou plantar margarida, samambaia, avenca, capim-santo no sopé? Se não tomamos a decisão, alguém tomou ela por nós. Eu estava andando na rua, vi uma faixa vermelha meio marrom, que corria um quarto de rua por toda uma vasta extensão. Queria o que aquela faixa, que saia do cruzamento do nada e ia até a ponte do lugar nenhum? Não sei se mesmo intentava querer, o que importa mesmo é que a placa dizia ciclofaixa e agora temos um lugar, meio que sem sentido, para depositarmos nossas bicicletas e sair andar por aí. Tudo bem que não e funcional, afinal de contas, bicicleta nunca foi meio de transporte no Brasil, bicicleta é brinquedo, então as ciclovias são faixas longas que chamaram de solução para calar a boca de argumentos em manifestação. Todo mundo gritou, ninguém decidiu, então veio um outrem e sozinho tomou decisão. É assim rapá, se você cuida do seu nariz, o nariz tem um dono, se não cuida do seu nariz, alguém é dono de você. A vida é um desvario, mas não significa que deve ser abandonada ao bel prazer como o nau à deriva. Porque aos moldes do grande oceâno, os perigos são imprevisíveis para aqueles que não traçam rotas e fazem provisões. E isso te deixa uma mensagem clara, que seu não cuida de vossa pessoa, o perigo acaba sendo você às outras pessoas. Acha que não, pois veja que as maiores picardias são desastrosamente executadas por uma entidade irresponsável. Não precisa ser insano o cidadão, ser serial killer ou homem-bomba: basta tomar uma dose ou duas de cachaça e mostrar para aquela menina que estava paquerando do outro lado da rua como é um valente rachador no volante. 
Zero a cem em dez segundos, uma virada no volante errada, uma freada brusca super derrapante e em quinze minutos você acaba de matar vinte pessoas num ponto de ônibus. Pronto, virou bandido em coluna policial! Você não quis decidir sobre seu caminho na vida, a imprensa marrom decidiu seu escárnio através de uma fictícia maldita sua vida pregressa. Horríveis palavras, eu sei, não quero simplesmente chocar você ou ele ou a nossa geração. Tudo o que faço nesse linguajar rocambólico e sim chamar atenção. Essa dita pelo fato de que, se você não tomar uma decisão, uma decisão toma você, da noite pro dia, de supetão. A vida é feita de escolhas, chapa, e seria bom para variar você se prestar a estar no controle da situação. Ação, luz, câmera. O palco está montado, a câmera está gravando, agora só te falta atuar. Ou quer que eu de a deixa pra você? Tá bom vou soprar. A casa tá caindo. Sim, comece por aí, a entrar em pânico, ter medo e ansiedade. Porque brasileiro é assim, leva assuntos sérios na calma, com tranquilidade e bom humor. Roubaram naquele lugar ali e não pegaram o ladrão, tudo bem, um dia pega. Pegaram, mas não prenderam, tudo bem, um dia prendem. Prenderam mas soltaram, tudo bem, vai ver ele nem era mesmo culpado. Agora aquele cara te fechou no trânsito, merda, buzina pra ele, tenta alcançá-lo, vamos que eu desço do carro junto com você para encher-lhe de sopapos. O curintia perdeu, vou pro buteco pra dar tabefe em quem ousar me tirar. O parmera ganhou, vou quebrar tudo porque eu preciso da porra do comemorar. Ah, moleque, que coisa feia esse pensamento torto que é o nosso. Se acalma nas horas erradas, se irrita nas horas terríveis. Será que a gente faz isso por que sempre quis assim? Não, acho que não, acho que por simples que pareça, parece que decidiram pela gente que brasileiro é povo pacato e tipo gente de bem, não liga pra política ou religião desde que não mexam com a mulata dele na praia nem lhe acabe o prato do feijão. 
Pode até subir o preço da leguminosa ou cair a bunda da devassa, mas seguindo os padrões do não fazer nada radical pra não assustar. Brasileiro não gosta de susto, e isso faz com que ele meio que parta pro reage, e então quem decide mesmo pela forma de agir do povo meio que não deixa ele ser pego assim tão tão com as calças arriadas na mão. É preciso agir, é preciso lutar, é possível ousar, é passível de mudar, basta querer, basta sentar um dois, três vizinhos, um mordomo, dois porteiros e um meio-irmão, e como se estivessem na roda de samba se unir e discutir a situação. Acho absurdo que assunto sério não vá pra mesa da cozinha, além da feijoada e do você. Isso não sei se é do português, do americano, do militar ou do senhor-presidente-mãe-dos-pobres, o importante é que é um tá que tá e que precisa meio que rápido de se mudar. Penso assim. Decidi pensar assim. É o meu direito, direito de um normal cidadão do povo, leitor de livro de sebo e bebedor de cerveja em boteco de esquina. Então decidido, deixei também escrevido, que é para assim espalhar opinião. 
Porque escritor tem dever de defender ideia, proteger um ponto de vista, propagar uma opção. Creio que o que queria ter lhe dito já esta nesse ponto por escrito, e resta a frase final, a que serve pra marcar o texto, como mote, moral ou conclusão. Peço que não se esqueça que a vida é dura, mas muito mais feito de pedra é um homem com faca e queijo na mão. E esse homem existe é você, só basta você que veja isso, e saiba disso dos segundos que se passam de agora até o seu momento final, amanhã, semana que vem, ou em um eterno ano-luz de conclusão. Mas tudo começa assim, de leve, com uma premissa, que deriva tudo do que por si só vai acontecer: frase final, qual é a sua, velho, a sua próxima decisão?

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