sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Já passei por aqui

    Já passei por aqui, e te digo, não tinha pra onde ir, só passei, por passar, na intenção de conhecer um novo lugar.
    Sabe aquela noite que não tem vento e nem coiote, nem estalo de chicote, a rua promete e o sangue fervilha, tudo brilha e então você pega sua jaqueta, não pelo frio mas pra se esconder, de proxeneta, e se misturar num cenário atroz, sem dó, sem rumo, você suas pernas e o aleatório caminho, que mundo!
    Dá medo cara, eu tremo as vezes, mas é gostoso sentir à vida um respeito, depois de tanta tediosa segurança num dia inteiro de escritório de carimbos e canetas de funcionário público.
    E então eu vou por lugares secretos, desertos, imundos, as vezes iluminados, as vezes com gente, outras com defuntos, olhando, e passando, e vendo, e levando, mas nunca parando, nem mesmo julgando. Só ando, só ando!
    Dessa vez, assim, não esperava, mas achei um lugar diferente pra minha coleção: um escadarão que levava o nada pro lugar nenhum, meio luz, meio escuridão, com ares que seria essa uma incrível emboscada fatal.
    Véio! Eu subi a piramba véio! Um passo por vez, o eco do sozinho lá longe, seguindo, me encruvinhando e me adrenando! A escalada não morria nunca, e eu bem silêncio no meu cérebro, só pra ver se sentia cheiro ou premonição do perigoso...
    E não é que lá no fim, bem pertinho, pertinho mesmo de acabar, não me desce um transeunte, que quase me arranca a alma pela boca, e que porra, é uma moça nova, com braços cruzados, mochila muchibada nas costas emburrada descendo a encosta. Sem poesia, sem melodia, tava lá, só cruzando aquele lugar perigosão da minha imaginação.
    Fiquei com vergonha e fui embora pra casa comer com cachorro-quente. Menina boba, estragando a aventura dos outros com seu descaso pelo escadarão! Respeita o escadarão menina, bem que podia ser perigoso lá! Naaa, é só um caminho tosco...

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