terça-feira, 3 de agosto de 2010

Acha mesmo que não me compreende?

Não te compreendo e não minto compreender, tendo em vista que meus olhos só vêem o que eu aprendi a ver, nem os seus mais belos retratos vão traduzir a beleza dos rostos que só você viu para que meu senso de beleza os veja como tal.
Essa compreensão, a de que somos sós no mundo, e que nosso amor e apreços são só nossos, traz um pouquinho de melancolia pra mim, pois sei que nem mesmo os seres que habitam minha imaginação são capazes de sentir exatamente o que sinto.
Mas nós fingimos ser entendidos, pelo prazer desesperado de aceitarmos essa solidão eterna, que não vem com a morte, mas desde já com nosso nascimento.
Nascer é trazer à consciência um ser solitário até sua morte.
Se acreditar na continuidade da vida após seus ritos fúnebres, então essa solidão talvez se arraste por toda eternidade.
Seria um consolo iludir-se na união com algo maior, com a grande entidade superiora, a que legitimamente entenderia seus sentimentos e razões? Mas também, projetar-se no limbo, no vazio, no umbral do eterno descaso, sim, é sofrer por antecipação.
Sou feliz porque aprecio minha melancolia.
Sou feliz porque aceito a compreensão inventada, a quase compreensão, e a não compreensão (desde que lúcida);
Paz, branda e silenciosa.
Eterna branca pura.
M.

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