quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Quando a cobra usurpa do ganso


Sentia frio quando tudo acabou. Não estava mais nas garras do pânico ensandecido que a obrigou àqueles atos que de irracionais, agora pareciam torpes, frívolos: salvara-se mesmo, não tinha realmente alternativas? As mãos tremiam com o contato frio da lâmina de aço empunhada que agora sacudia-lhe feito vivo. Sua fronte, empapada de sangue e suor estava amortecida, dando mostras da dor que estava por ser desmascarada.
Silêncio, ele não mais de debatia, sem mais empasmos, apenas olhos sinistramente abertos, assim como sua boca; seus dedos retorcidos em quase rigidez cadavérica, ali, prostrado em toda sua sujeira: urina e sangue formavam uma poça feito chiqueiro; e ele, o porco.
Não mais poderia lha maltratar. Mas, afinal, maltratou-a? Não fora ela afinal quem convidou-lhe para um passeio em seu carro, dizendo que haveria uma festa lá perto do bosque? Que disse que não conhecia um homem há mais de dois anos e que estava sem roupas íntimas?
Mas ele merecia, de fato merecia. Com aqueles olhos maliciosos, procurando lascívia. Entrou com um sorriso malcriado, com aquelas roupas suadas do trabalho em seu carro, todo limpo e encerado! Que tipo de homem era esse? Não um que pudesse se aproveitar dela, sim, ela sabia se defender, o que de fato o fez. Não deu chance para o malandro... assim que tentou abraçá-la, beijar-lhe a face.... demostrou-lhe desapreço. Ojeriza. Ele tentou segurá-la pelo braço quando ela fugiu do veículo, e correu como louco em seu encalço. Sorria e dizia palavras inteligíveis, típicas de quem perde a cabeça pelo cio.

Abraçou-a contra uma árvore, levantando um pedaço de sua saia florida, beijando-a ofegante seu pescoço. Definitivamente não entendia as mulheres, achava mesmo que isso a estava excitando. Ora, qual foi seu erro, quando deixou que ela lhe abraçasse ao redor de seu pescoço. Sentiu, com todo o seu jeito vil e animalesco, uma ferroada nas costas. Tentou afastar-se dela, tomar um ar.... mas seus pulmões não mais se enchiam; ao contrário, parecia estar se afogando. Ela então segurou-o com o braço esquerdo, enquanto lha apunhalava as costas com força, urrando. Ele tentou afastá-la com uma cotovelada certeira em seu rosto... o que fez com que a derrubasse de joelhos, semi-consciente. Precisava de ar, quanta dor! A vista começou a ficar preta... o gosto de sangue na boca, o nariz escorrendo quente um líquido vermelho... pensou, alguém tem um lenço, merda, preciso assoar a porra do meu nariz! Agitava-se como um animal no abate. Toda a cena não durou mais que 15 minutos: urina e sangue formavam uma poça feito chiqueiro; e ele, o porco.

Um comentário:

  1. Sensacional! Gostaria que tivesse sido eu o criador desse texto!

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