Giorno
abre os olhos mais uma vez, após centenas de piscadelas ininterruptas. Queria ele que fosse outro dia, outro lugar, mas não, estava ele ali, em frente ao cadáver do
porteiro que ele acabara de matar. Giorno sentiu o cheiro da poça de sangue que
se formava na cabeça aberta do homem caído, e então se deu conta que ainda
segurava em sua mão direita o pesado bastão que usou para rachar-lhe o crânio.
“Calma,
Giorno”, pensou, enquanto procurava um saco plástico para esconder a arma do crime.
“Ninguém escutou nada, são quase três horas da manhã, a câmera da porta da
frente está quebrada. A qualquer momento você poderá sair silenciosamente e
ninguém terá prova alguma contra você.”
Giorno
fechou a pequena saleta da portaria usando o pano da manga de sua camisa, para não deixar
impressões digitais. Parou por alguns segundos, procurando no silêncio profundo
alguma observação anormal. “Nada, além dos grilos por testemunha”, pensou
Giorno, e esse pensamento arrancou dele um sorriso nervoso, como se a piada pudesse
acalmá-lo da perigosa situação em que se encontrava. Olhou através do
jardim, e então para cima, observando meticulosamente cada uma das janelas
daquele prédio de oito andares procurando testemunhas oculares. Uma espécie de
frenesi tomou conta de seu corpo ao perceber que tudo caminhava conforme o
esperado, mesmo que não tivesse planejado nenhuma de suas ações daquela noite.
Então,
com a chave do porteiro em mãos, abriu a porta de vidro que dava para o hall e
entrou pelo espaço escuro. Sabia que sobre sua cabeça havia outra câmera, mas
também que ela nada conseguiria filmar com a luz apagada, coisa normal
naquela hora da noite devido a ordem da síndica irresponsável, que pensava que
deixando as luzes dos corredores desligadas na madrugada poderia economizar um
pouco na conta de luz do condomínio. Cruzou em passos largos até chegar a porta
de incêndio no canto esquerdo que dava para a escadaria, aberta facilmente
com um empurar do seu cotovelo. Subiu então nas pontas dos pés, sabendo que sapatos sociais poderia
gerar estalos incômodos que ecoariam até o topo do edifício. Seus movimentos
eram tão calmos e meticulosos que nem mesmo o sensor de presença que acionaria as
luzes da subida foram despertados. Seu coração pulsava a cada passo, mais de
excitação do que estava prestes a fazer do que do medo de ser pego. Após uma
eternidade de quase quinze minutos, parou na porta corta-fogo que, segundo seus
cálculos, o levaria até o corredor do andar da Srta. Cera.
O silêncio era gritante em seus ouvidos, e ele estancou a respiração e fechou os olhos para celebrar esse momento ritual. Seu coração batia forte em seu peito, e então ele começou a fazer uma série de respirações profundas até sentir-se novamente sob total controle dos seus atos. Giorno pegou um lenço no bolso de seu paletó e utilizou-o para abrir a porta de aço lenta e cautelosamente, de forma que não fizesse um ruído sequer. Assim que terminou de abrí-la, o sensor de presença do corredor que dava para os apartamentos acendeu a luz, e ele então pôde ver o vapor de sua respiração seguindo seu caminho sobre o ambiente frio. Ficou parado alguns segundos até que a luz se apaga-se e então caminhou no escuro pleno até o final do corredor, onde conseguiu com as palmas de suas mãos sentir a porta de madeira envernizada do apartamento que procurava. Não conseguia acreditar que estava a tão poucos passos de realizar aquele seu desejo tão pulsante, tão feroz que o consumia de forma avassaladora.
O silêncio era gritante em seus ouvidos, e ele estancou a respiração e fechou os olhos para celebrar esse momento ritual. Seu coração batia forte em seu peito, e então ele começou a fazer uma série de respirações profundas até sentir-se novamente sob total controle dos seus atos. Giorno pegou um lenço no bolso de seu paletó e utilizou-o para abrir a porta de aço lenta e cautelosamente, de forma que não fizesse um ruído sequer. Assim que terminou de abrí-la, o sensor de presença do corredor que dava para os apartamentos acendeu a luz, e ele então pôde ver o vapor de sua respiração seguindo seu caminho sobre o ambiente frio. Ficou parado alguns segundos até que a luz se apaga-se e então caminhou no escuro pleno até o final do corredor, onde conseguiu com as palmas de suas mãos sentir a porta de madeira envernizada do apartamento que procurava. Não conseguia acreditar que estava a tão poucos passos de realizar aquele seu desejo tão pulsante, tão feroz que o consumia de forma avassaladora.

Tateou
o bolso esquerdo do seu paletó e então sentiu nas mãos o molho de chaves que
retirara do quadro do porteiro com todas as que abriam portas daquele andar.
Então praguejou silenciosamente “maldição, não tenho como ler no escuro o número da chave que serve para
essa porta. Deveria ter separado a certa lá embaixo. Agora vou ser obrigado a
testar uma a uma. Sorte a minha é que serão poucas as tentativas”. E então ele
fechou os olhos e tentando sentir o serrilhado de cada chave entre seus dedos, tentando adivinhar qual seria a correta. Escolheu aleatoriamente uma delas e pensou, convicto “É essa, vou tentar já!”. Segurou a chave firme entre o polegar e o indicador de sua mão e apertou
as outras chaves com a palma encurvada de sorte que não fizessem barulho na
hora em que virasse o chaveiro sobre a fechadura. Ela entrou com
facilidade, mas ao forçar sentiu que ela não girava. “Será que é a chave errada
ou só está engripada? Forçou mais um pouco, fazendo um pequeno barulho que o
deixou apreensivo. Parou tudo e tentou escutar através da porta. “Nenhum sinal
de gente acordada. Bom.”. Então Giorno com cuidado selecionou a chave seguinte
e inseriu-a na fechadura com a mesma facilidade que a anterior, mas da mesma
forma não girava sobre seu eixo.

Giorno
sentiu o suor gelar por sobre sua nuca, e suas mãos começaram a tremer.
Levantou-se
vagarosamente e tentou não entrar em pânico. Então escutou
novamente a voz feminina através da porta, “Anselmo, é você? Esqueceu de novo a
chave do seu apartamento? Porque está escuro aí fora, o sensor queimou de novo?
Espere um pouquinho!”. Giorno escutou uma chave girando naquela
fechadura e a porta se abriu, revelando uma mulher alta e esguia, com longos
cabelos escuros caindo sobre um roupão de cetim cor de ouro envelhecido. Era a
Srta. Cera.
Giorno
agiu o mais rápido que pôde. Com a mão esquerda tapou a boca da mulher e com a
outra empurrou-lhe violentamente apartamento adentro, tendo o cuidado de fechar
a porta com o pé direito. Cera estava totalmente fora de si, e não teve tempo
sequer de reagir. O homem conduziu-a até seu quarto e então jogou-a
violentamente na cama. Com o peso de seu corpo ele a imobilizou e então
arrancou a fronha do travesseiro que estava mais a mão e enfio o máximo de pano
que conseguiu na boca da mulher. Ela ainda estava tentando entender o que
acontecia quando Giorno arrancou-lhe o roupão, revelando uma camisola branca
transparente sem mais nada por baixo. Ao ver seus negros pêlos pubianos logo abaixo
do tecido, Giorno ficou excitado e sentiu um tremor de êxtase ao reparar de
soslaio o seu reflexo no espelho da pentedeira: um elegante homem de terno
risca de giz com o cabelo fixado no mais perfeito alinhamento.
Ele
se fixou em sua imagem como se fosse uma espécie de espectador da cena, vendo
ele próprio abrindo a braguilha de sua calça e então subindo a camisola até
acima dos peitos rijos da Srta Cera. Aquele corpo branco contrastava de tal
forma com seus cabelos negros, seus grandes olhos escuros, seus longos cílios,
que ele teve que tomar cuidado para não entrar em êxtase antes do ato
premeditado. Pensou consigo mesmo: quem vê essa mulher toda arrumada em seu
tailleur de trabalho, toda maquiada em formal profissionalismo, não sabe o que
ela esconde na simplicidade íntima do seu lar.
Giorno
mal se conteve ao beijar sofregamente a boca de Cera, seus ombros, e então
sugar com voracidade seu mamilo direito. Cera tentava se libertar de todas as
maneiras possíveis, mas o homem era forte demais para suas frágeis tentativas
de luta. Giorno então abriu as pernas da mulher com os seus joelhos e tentou
forçar a entrada em sua vagina. Ela se debateu até esgotar suas forças, e
quando sentiu que o homem conseguiu realizar seu intento em penetrá-la, deixou de
resistir até que ele terminasse seu ato sujo. Seu ódio deu lugar à um vazio
interior, e ela pareceu apagar-se em um estado catatônico, paralizada em sua
frustração de não ter mais como reagir.

Ela
se deitou ao seu lado, aniquilada por toda aquela ação, e por alguns minutos
ambos ficaram parados olhando para o teto, respirando ofegantes com seus
corações palpitando. Então fez-se o silêncio, e ambos se encararam, pensando em
seus próximos movimentos. Ela fez menção de pular da cama, mas Giorno foi mais
rápido e ficou na frente da porta do quarto, impedindo sua passagem.

Giorno
passava a mão em sua cabeça latejante enquanto observava o corpo inerte que
antes fora seu objeto do desejo, pensando em como gostaria de poder
possuí-la mais uma vez. Estava envolto nesse pensamento hediondo quando escutou a porta
se abrir, o que fez com que ele se vira-se num sobressalto.

“Ela
está morta. Sorte a sua que o vizinho de porta toma remédio tarja preta para
dormir.”
Giorno
sentou-se no sofá ainda com a mão na cabeça e então disse:
“Marta,
pode ver se encontra um analgésico no banheiro, por gentileza?”.
“É
claro, querido.”, disse Marta, pondo-se em pé. Fez menção de ir até o banheiro
mas estacou levantando o indicador em atitude pensativa. “Se bem que acho que
você não vai precisar.”
Giorno
fez uma cara interrogativa que repentinamente tornou-se de espanto ao ver que
Marta estava com uma arma na mão apontada pra ele.
“Adeus
querido!”, disse Marta, antes de acertar um tiro certeiro em seu olho direito,
logo abaixo do seu machucado na testa.

Então
calmamente saiu do apartamento e subiu pela escada de incêndio até o seu andar,
preparou um chá na cozinha e deu um telefonema, para depois retornar ao quarto
em que estava dormindo com seu velho marido.
“Marta,
o que aconteceu? Escutei um barulhão agora. Vem da rua ou é daqui do prédio?”,
disse Gervásio, apreensivo.
“Volte
a dormir Gervásio, eu já liguei pra polícia, eles se encarregarão do
ocorrido.”, disse amavelmente Marta.
“Você
é uma síndica muito dedicada, meu amor”, disse Gervásío, dando um beijo de boa-noite
na esposa.
“Gervásio,
está acordado querido?”. Disse Marta, coberta até a cabeça com seu edredonzinho
cheirando a lavanda.
“Ãh,
o que meu amor?”, disse Gervásio meio embriagado de sono.
“Nos
livramos do porteiro e da sub-síndica.”, cuspiu Marta.
“Que
bom.”, respondeu Gervásio, já envolto no mundo dos sonhos.
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