Eu queria tanto você aqui.
Do meu lado, pra me passar o lenço,
porque meu nariz está entupido,
e não tem ninguém pra me ajudar.
Eu queria tanto você aqui.
Do meu lado, pra me passar o lenço,
porque meu nariz está entupido,
e não tem ninguém pra me ajudar.
Hoje tive uma conversa sobre flatulência e gente rica com um cara no café da manhã na padaria.
O cara era professor de história, diga-se de passagem.
Nossa conversa, que começou por uma razão esquisita que posso contar em outro momento,
partiu pra esse lado quando ambos presenciamos um homem, que tomava um café acompanhado de uns três salgados de procedência duvidosa, soltar um arroto enorme, pedir uma desculpa mequetrefe, pagar a conta e ir embora, como se nada tivesse acontecido.
Falávamos de outra coisa, mas tipo, o assunto morreu.
O professor, pra quebra o gelo, remendou:
-É estranho, mas pasme, as coisas eram piores antigamente. E o melhor de tudo: ninguém se importava. Esse lance de ter nojinho pelas funções corporais é coisa moderna, coisa de duzentos anos pra cá.
E ele começou a explicar que, antes da Era Vitoriana, tipo na Idade Média, o pessoal era bem mais tranquilo com essas coisas. As funções do corpo eram vistas de um jeito bem mais natural. Não que não já não houvesse pudor ou senso de nojo, mas é que não existiam grandes adensamentos urbanos. As pessoas viviam em áreas mais esparsas, e por isso, o senso de etiqueta era menos rígido.
Ele me contou que antes da revolução industrial, até a nobreza, que a gente imagina super chique, tinha uma tolerância maior pra essas coisas. A higiene, o cheiro do ambiente no geral, era tudo diferente, então um arroto ou um gás não eram tão chocantes assim. Ou seja, uma Marquesa agachar em um corredor do Louvre no meio de todos aqueles vestidos pra usar um penico acudida por seu monte de aias enquanto outros nobres passavam era uma coisa comum. Isso sem falar no jardim de Versailles, famoso por ser banheiro de aristocrata.
Mas daí, segundo ele, a grande virada foi na Era Vitoriana, lá pelo século XIX. A Rainha Vitória meio que ditou um novo padrão de moralidade e etiqueta, e a galera que estava enriquecendo com a industrialização queria muito mostrar que era 'fina'. Virou uma loucura de regras pra tudo!
Enquanto ele falava, vi caixa balançando a cabeça pra um senhor que pedia 'pra colocar na conta'. Não teve fiado, claro, mas a historinha do professor prosseguiu.
O professor disse que essa rigidez toda veio da mistura do crescimento da classe média, da influência da Rainha, de uns movimentos religiosos que pregavam a disciplina, e das cidades que estavam virando um formigueiro, precisando de mais 'ordem'. Ele até citou uns livros de etiqueta da época que ensinavam como se portar.
E o mais curioso é que surgiram uns aparelhos tipo umas bolsinhas com carvão ativado pra mascarar os odores dos gases das mulheres com aqueles vestidões todos! O objetivo era só esconder o cheiro, porque a vergonha era enorme. Imagina que, com os espartilhos, as mulheres passavam apuros, pois não tinham como segurar nada, já que estava tudo apertado lá dentro daquilo tudo.
A conversa tava nesse nível, e o povo da mesa ao lado fazendo pedido: "Três pães de queijo e um expresso, por favor!"
No fim, a gente concluiu que, de certa forma, o mundo moderno ainda carrega um monte de ecos dessas normas antigas. Aquela rigidez dos nossos avós com a boa educação, que a gente às vezes acha exagerada, tem muito a ver com esses costumes herdados lá da época vitoriana. As nossas próprias normas de "bom comportamento" em público, no fundo, são um resultado desse passado. Por isso que um cara soltar um arroto enorme no meio da padaria hoje em dia parece tão esquisito e fora de lugar. Talvez, se ele tivesse nascido antes dos grandes aglomerados urbanos, não fosse julgado tão impiedosamente…
Um homem veio até o nosso circulo. Profanou as catacumbas. Fez o ritual iniciático. Feriu a paz profunda que garante o sono dos espíritos. Botou fogo nas piras sagradas, sacrificou um animal santo, espalhou o sangue nos orifícios labirínticos que circundam o altar real. E então invocou nossos noves: Avagon, Potriolon, Agameth, Basferoth, Asmodeus, Zakhelen, Mifrón. Azadeush. Um movimento pífio de um humano incauto abalou a terra dos mortos e tirou a terra do eixo.
Prostrados e prudentes, no entanto, esperamos. Deixem que ele termine apropriadamente o ritual. Deixem que ele nos ajude a recobrar nossas forças, e fingiremos cooperar o tempo que for necessário até estarmos com os nossos desígnios em segurança. Deixemos pois que ele pense que nos controla, talvez por trinta ou quarenta anos. Façamos ele pensar que será eterno, e que poderá reinar o mundo. Pacientes, serviremos seus desejos e atenderemos os seus mais selvagens pedidos, até que a hora fatídica se aproxime. Então, num lampejo de um trovão, a sua sina mudará como muda a revoada dos pássaros. Manteremos até lá, uma tumular discrição. Que o plano de aniquilação absoluta dos profanadores prospere.
comprei um termômetro, mas deu 36.7.
agora estou sozinho em casa,
na véspera das minhas férias.
as ações caem quase 6%
aquelas mesmas que eu não vendi.
e a C está tentando se dar bem no emprego novo,
estudando lá,
na casa dela.
tomei relaxante muscular,
um analgésico,
estou com o ventilador ligado no 2.
e o mal estar não passa.
seria covid?
ou percepção de que a vida está fora dos trilhos?
acabei hoje o alquimista de Paulo Coelho.
o que me fez pensar…
será que eu estou seguindo minha lenda pessoal?
assisti ao clássico de 62 carnival of souls.
no final a moça era morta,
e os espectros nas janelas nos assombram
até hoje no Netflix.
tem coisa que é clássico, e por isso é copiado,
e tem coisa que é copiado,
porque as pessoa tem preguiça de ler algo novo no livro de receita
e acaba por requentar a mesma polenta com frango de sempre.
eu queria não requentar nada.
mas como dizem por aí, as vezes a gente precisa
estudar os clássicos, antes de bater as nossas asas.
eu queria viajar.
pra longe.
tipo, uma praia deserta onde a água fosse azul
e a cerveja fosse gelada,
e de preferência pagável,
e que a sombra do guarda-sol
não mudasse muito de posição enquanto eu brincasse com a areia
entre os dedos do meu pé.
queria um short, um boné e um óculos de sol,
sentir a maresia,
o cheiro do protetor,
e simplesmente me embebedar,
até quando Deus quisesse.
mas, no entanto
estou no meu quarto,
possivelmente com covid,
(a Europa toda está novamente com covid),
e eu não tenho outra alternativa
que não a de me entreter na velha cidade grande de sempre.
mas não faz mal.
eu posso lidar com isso.
certamente que posso.
não sou mais adolescente.
não preciso mais de amigos pra tomar minha cerveja,
não preciso de academia pra pegar meus pesos,
não preciso de palhaço fazendo careta pra rir.
aliás, sou autossuficiente em risadas.
rio sozinho, tudo dia.
as vezes me sento no sofá do meu apartamento,
de frente para a televisão,
e minha parede amarela,
a que fica atrás da televisão,
(porque as outras são cor de gelo),
e rio sozinho.
não soa natural no começo,
e nem é pra soar.
eu começo de forma tímida,
rá, rá, rá,
e o misto do descompasso com a timidez
soa hilário, e eu acabo rindo de fato.
as vezes me esbaldo em gargalhada,
e me pergunto o que o meu vizinho de parede
acha de mim.
acha que sou bobo?
acha que assisto comédia?
eu odeio comédia. filme, livro, meme…
mas eu não ligo dele achar que assisto comédia.
melhor que ele imaginar que sou um maldito sociopata esquisito.
daqueles que guardam pedaços de cadáver na geladeira.
deixa ele achar que assisto chaves.
eu não preciso provar nada pra ninguém.
olha só pra esse blog.
vazio.
sem leitores.
nem eu mesmo leio o que escrevo.
gosto da ação.
gosto da verve.
gosto do pulsar das teclinhas nos meus dedos.
mas não dou a mínima para o que eu escrevo.
já tentei reler alguma coisa.
já tentei inclusive mexer em algo que escrevi,
mas não deu muito certo.
ficou uma bosta.
porque minhas ideias vem uma encima da outra,
elas encavalam
e lapidar ideia velha funciona pra mim
como passar espanador no touro do wall street.
deixa o tourinho lá empoeirando,
que as mãos dos turistas removem sozinhas o pó.
então
já deixo claro
esse texto,
ou qualquer outro,
não, será, revisad,o
ontem, eu briguei com o mundo.
sabe, o trivial,
quando você discorda da forma como todos levam a vida,
trumpbolsonaroamazôniacovid e tal,
e resolve simplesmente fingir que não é mais parte do time,
sabe o que quero dizer?
da humanidade.
não sou mais humano,
e ponto final.
o que pode acontecer, se eu simplesmente me considerar não humano?
ainda posso regar minhas plantas?
posso andar nas ruas,
beijar a bunda das estátuas de mármore no louvre,
comer o cu do saci nas bodas da meia noite?
se eu posso,
então, não vejo o porque de ter que me considerar ser humano.
sou um eremita da minha espécie.
e ponto final.