terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Mal de Cobb , Dolores de Teddy - Tramando paralelo entre Ilha do Medo (Shutter Island, 2010) e A Origem (Inception, 2010)

    Quantos conflitos esse ano para nosso amigo DiCaprio, que enfrentou dois tramas psicológicos que envolviam suas mulheres mortas!
    E curiosa coincidência, ambos os filmes falavam, mesmo que de maneira diferente e com diferentes linguagens, sobre as camadas possíveis de realidade, ou meandros entre essa e a ilusão.
    Enquanto Shutter Island de Martin Scorcese explora a delicada sanidade de Teddy Daniels aplicada à uma possível e sofisticada conspiração em um sanatório insular da America pós-guerra, Inception, de Christopher Nolan  lida com a idéia de manipular as múltiplas camadas de consciência vistas pelo ser humano como uma matiz entre sonho e vigília.
    Ambos os filmes usam alguns elementos comuns, no meu ponto de vista. Os dois personagens de Leonardo DiCaprio têm como grilos-falantes suas falecidas esposas que aparecem constantemente ao longo dos enredos para dar conselhos contraditórios que em alguns momentos pensamos conter a chave para os enigmas que permeiam suas histórias. As duas parecem de forma esfumada terem perdido suas sanidades por seus maridos, e agora clamam por sua demência.
    Nos dois filmes o herói possui seus condutores pelo inferno astral em que vivem, Ariadne pelos sonhos com Cobb e  Chuck pelos desvairios na ilha com Teddy. Existem "mentores" por trás dos dois: Miles e Dr Jonh Cawley. Quanto à mente que propõe o Enigma, nos vemos induzidos a seguir os sonhos de Robert Fischer tanto quanto à infanticida Rachel em sua suposta fuga.
O desfecho dos filmes seguem uma linha de raciocínio curiosa: parecem abertos, pois traduzimos uma grande miragem com Cobb voltando às suas crianças e Teddy enlouquecendo de fato.
    Cada diretor escolheu sua forma de nos mostrar isso: Nolan optou pela cena do pião cortada pouco antes de sua possível queda, escondendo da platéia a veracidade daquela realidade em que rodava, tornando-a ambígua.
    Scorcese preferiu como solução singela uma frase. Dita por Teddy a Chuck pouco antes de ir rumo à sua inevitável lobotomia no final do enredo, exprime o paradoxo dos dois filmes, e pra mim traz a solução para seus finais misteriosos:
    - O que poderia ser pior, viver como um monstro ou morrer como um homem bom?

Um comentário:

  1. Pensei que quase ninguém tivesse reparado nessas semelhanças, rs...
    Mas o que mais me deixou intrigada foram esses "finais abertos a interpretações"... Eu realmente fiquei na dúvida se a realidade era a de Teddy Daniels ou a do Andrew Laeddis.

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