segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Perestróika da Melancolia em Puro Pavê

    Um gato preto passeava num muro incendiado pela lua cheia, vagaroso, observando detalhes dos telhados das casas que via desse ponto privilegiado de vista.
    Um cachorro peludo e desgrenhado, mais parecido com o cruzamento de ovelha com as vira-latas das vielas, observava o gato, quieto, ali em baixo do muro, esperando o gato saltar, só pra pregar-lhe um susto daqueles.
    Um ratinho cinza, assustado, com o coração pulando como dançava em adrenalinas mil de mil medos, estava em uma fresta escura, só de focinho pra fora, esperando avidamente o cachorro ir embora para cuidar dos problemas da sua vida.
    O tempo passava, o gato andava de um lado para o outro do muro, o cachorro abria a boca de tédio e o ratinho tilintava de ansiedade e de todo sustos.
    Pôs-se o gato a miar, miar pra rua, buscando uma fêmea que pudesse dar-lhe a prática de uma noite de núpcias.  Segurou o cachorro o uivo para lua, que sabia ser bela, mas seu tributo tinha espera da caça na espreita.
    E o rato, que puxa, esse rato, que só fazia esperar e esperar, com toda a sua fome e desejos de sobreviver nesse mundinho hostil. Vai não vai, vai não vai, foi, pata ante pata, tentando atravessar o canino amedrontador.
    Eis que uma janela se abriu, e uma bota voou, assoviando seu caminho na cabeça do gato, certeira, deixando miado e tranco num rodopio, jogando o bichano feito dado viciado em cima do cachorro, que estava quase cochilando, e que agora latia num susto, escuso de garras de felino nas costas, pulando de surpresa e dor! O rato tão próximo todo se arrepiou, estalou mais ainda os olhinhos e paralisou quando viu que o gato naqueles xiliques o havia avistado, e feito juras num contato visual.
   Quanta confusão, quanta agonia! Se todos girando num pião justo de comoção da briga armada, gato, cachorro e rato correndo atrás uns dos outros, percebessem o cheiro do pavê proveniente daquela janela aberta.... e no final, perceberam: um odor de comida típica, característico tapa na cara dos três animais famintos.
   A briga acalmou, todos se aquietaram, levantando seus focinhos para sentir os sons daquela sinfonia olfativa..... e pouco a pouco cada um foi... do seus jeito, meio que de lado, embora.... pensando em suas melancolias gastronômicas que só o pavê podia proporcionar, naquela hora, naquela janela tão inacessível quanto o coração dos homens, o santo graal das guloseimas (CONTINUA)....

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