quinta-feira, 3 de julho de 2014

Idiotas, a filosofia e um rio.

  Qualqueromem andava pela calçada quando viu um rio na quina do quarteirão. Disse com seus botões, “agora o bicho pega.”, e então procurou artifícios para continuar sua jornada. 
  Sabeseláquem, andando de soslaio pela vida com seu bonito pedalinho, viu o vizinho e parou, perguntando então logo em seguida: “O que está fazendo?”.
  Qualqueromem, impaciente com a interrupção de seus pensamentos, respondeu: “Me irritando com um abelhudo que atrapalha minhas expectativas.”.
 Sabeseláquem, boca aberta pela ousadia do compadre, resolveu mudar a estratégia, tentando deduzir o que o outro fazia: ”Pelo visto está com um problema. O velho problema de sempre.” Então foi Qualqueromem quem curioso ficou: “Velho problema, e que espécie de empecilho seria este?”.
  Então Sabeseláquem, passando a língua sentido anti-horário nos lábios pouco depois de estalar a saliva da boca num claro sinal de saber muito bem quem é que mandava agora respondeu: “Ora, você quer saber como seguir, e na pior das hipóteses, pra onde seguir. Não sabe como atravessar a rio, não é mesmo?” 
  Qualqueromem fez fusquinha do risadão boçal de escárnio que o seu adversário fez. Tentou minimizar a situação, escondendo a sua vergonha, afinal ninguém gosta de se passar por ignorante na frente de um idiota. 
  Disse então: “Hahaha bobão, como se a minha vida fosse simples como a sua, pedalando feito um Nhônho essa bicicleta d´água de palhaço de circo”, Qualqueromem começou seu discurso assim porque todo mundo sabe que atacar é melhor do que se defender, e continuou então, “Não é que eu não saiba atravessá-lo, bagre, coisa que até uma ameba pedalante consegue fazer. 
  O que de fato eu não sei, seu estúpido, e por isso estava pensando à respeito antes que você ficasse me cheirando com sua curiosidade feito um cofap sarnentão, e como DEVO atravessá-lo!”. 
  Com uma caricata cara de nojo, Sabeseláquem, apoiando seus dois cotovelos no guidão de franjinhas azuis de seu pedalo jóia, não conseguiu replicar, só deu o repetéco: “Como DEVE atravessá-lo?”. “Sim, seu, babão! Vai babar um ovo lá no Capiberibe, que eu estou tendo um problema de ordem filosófica, tendeu não, norantão?”. 
  Sabeseláquem ficou pequenininho de fracasso, tentou pedalar pra ir embora com rabo no vão das pernas, mas não alcançava o pedal, teve que ir embora empurrando a pedalinho. 
  Ficou amarelado com esse problema ordenado pela filosofia, pois não conhecia nem essa senhora nem a ordem nem o problema em si. 
  Qualqueromem ficou com na cara a expressão feliz da vitória braços abertos com punhos fechados na cintura, em posição bonachona intimidadora até Sabeseláquem sumir de sua vista nos confins do riachão. 
  Falou em voz alta, para seus botões ouvirem: “Ah, esse trouxa, caiu certinho no meu truque. Agora ele foi embora e vai até ter pesadelo à noite. Pensando que era mais esperto que eu, té parece! Mal ele soubesse que eu só disse aquilo de filosofia porque escutei falar no jornal. Ler é conteúdo mesmo véio!”, disse isso e então gargalhou forte, como o diabo na pele de rei.
   Seus botões perguntaram então, curiosos: ”Qualquerómem, Qualquerómem, o que é que é filosofia?”, e foram logo achacoalhados vulgarmente, como prostitutas imbecis: “E eu por acaso estou pouco me lixando para o que seja essa pichorra? O que eu quero saber mesmo é quem que vai me dar carona pro outro lado desse picarralho desse rio!”

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