quarta-feira, 2 de julho de 2014

Qual é o grande dilema

  Andando no metrô buscava nas pessoas pistas conclusivas após Mentor pedir para que meditasse sobre meu dilema. Um problema pode ser resolvido por diversos meios, diz, enquanto um dilema só pode ser solucionado através da mudança da consciência.
  Pensei nisso muito tempo ontem, sem chegar a nenhum resquício do fio de novelo que me tiraria do labirinto em que me encontrava. Tive sonhos atrozes, enigmáticos, pés flota-telúricos buscando novos aéreos-galgares.
  Nada, senão suores noturnos. Foi hoje, no meio de gente viva, ocupada, atarefada com o cotidiano é que tive a epifania, que veio a mim quase em gozo de êxtase.
  Qual é o meu dilema, a força motriz da minha estória, a que mociona meus filhos em busca dos seus graais? Agora eu sei, quando vi na minha frente, em iluminação onipresente, solar, áurea, mesmo naquele túnel feito de sobras e ansiedades que é o lugar de trespasse do trem. Tudo revoluciona em torno da redenção.
  Qual seria meu grande dilema, senão lutar pela aceitação do meu trilhar obscuro, justificar aos meus iguais meu andrajo nas noites de gala, minhas incursões caridosas aos degradados sociais, minha colecionar constante pelos fatos aberrantes? Ser aceito, ser entendido, compreendido, e afinal porque não dizer, amado, é o objetivo final que tenciono almejar com a conclusão desse meu bizarro permeio. A isso chamo de redenção. Porque sempre tive ojeriza de ser enterrado na vala comum do ordinário, e desde tenra idade cobicei meu nome nas constelações.
  Não pela glória cantada do povo, da qual me escuso se demonstro tal intenção, porque julgo-me protegido pelo anonimato, além de ter a chance de agir melhor disfarçado entre as massas.
  O que me inspira sim é a vitória imortal cravada em minha alma por ter cumprido o vaticínio de ter feito jus aos meus talentos natos que considero ter recebido. É ser bem quisto pelo meu povo, que no fim compreenderá que fiz algo digno com a cruz que recebi desde meu choro pós-natal, que mesmo recebendo alívio de seu peso por pessoas por mim inesquecíveis, nunca deixei de abandoná-la um só instante do meu caminho em vida. É mostrando meus atos finais, que intento justificar meus meios.
  Espero que através deles as pessoas interpretem um pedido de perdão. E, se assim for bem sucedido, a justiça divina fara elo com a terrena, para que coadunadas determinem o maior de todos os presentes que poderia ser-me ofertado, a derradeira redenção.
  Acredito que era isso que Mentor quisesse de mim, quando pediu que pensasse sobre o meu dilema. É isso então que tenho afinal, a lhe oferecer.

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