segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sobre valores que se invertem ao cair da noite

O bem é mau
O mal é bom
Existem casos em que fazer o bem para alguém prejudica, estraga, mima e vicia.


Existem casos em que fazer o mal por alguém enobrece, forja caráter e e salva.


A alguns alvos precisamos aplicar o mal para fazer bondade.

A outros fazer o bem é apenas um mau negócio, com a melhor das intenções, e delas o inferno está cheio, como dizem...  

Aconselho pois: lembre-se da parcimônia, virtude das ponderações eternas.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Corações singelos e ambições

O sapo perguntou à princesa:
- O que me dá se beijar você?
E a menina respondeu:
- Te transformo em um príncipe, lógico!
O sapo, desanimado, olhou cabisbaixo, depois suspirou:
- E o que eu ganho com isso?
A menina cruzou os braços, atônica:
- Você será muito popular sapo! Morará num castelo e terá varias garotas interessadas em casar com você!
O Batráquio olhou curioso, arrumando-se em sua pedra:
-E ser popular é bom? E ter diversas pretendentes para o matrimônio vale a pena?
A menina, com a mão no rosto, quase desistindo de tentar explicar tudo para o sapo, tentou manter a paciência:
- Sendo popular, você terá mais amigos que poderá dar atenção sapo. Mas precisa tomar cuidado com os aproveitadores e maliciosos que farão de tudo pra se aproveitar da sua influência com as pessoas. E poder ter várias mulheres querendo ser sua esposa garantirá que você se case com uma garota linda e inteligente, mas novamente deve se preocupar com as malvadas que querem se tornar princesas e maltratar o povo às suas custas!
O anfíbio fez força, pensou bastante, e teve uma grande idéia, boba talvez, mas brilhante considerando sua inteligência de sapo:
- E se eu te beijasse só porque você é linda? Nada precisa mudar! Não quero mais amigos que eu possa cuidar, nem mulheres que não possa confiar!
- Sapo bobo, eu sou uma menina!
- Então me beija, só porque me ama...!
E eles se beijaram e ela se transformou numa linda sapinha.
E eles viveram felizes por muito tempo naquela lagoa...

... até o dia em que ele acordou príncipe e foi embora para ser popular e beijar as belas do reino!

Resposta aos injustiçados

Coisas do cotidiano disse...
Uma obra de arte nunca se pinta ao acaso.
Um homem triste deixa de ser triste quando vira uma obra poética destinada ao acaso.
Álcool inflamado queima o seu coração, queima ao fogo e arde de paixão.
O espelho devolve-lhe a certeza de que embriagar-se recupera as boas lembranças e
esquece as bobas brigas.
A bicicleta companheira fiel, o leva de volta ao lar, demonstra a sobriedade de ainda pode se localizar no espaço.
Sóbrio compreende que o caso do acaso nunca existe.

-x-

Comentário feito ao post Injustiça de si próprio. Muito obrigado querida!

-x-

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Enxotem esse bufão!

Sai daqui! Sai d´alguém! Sai d´algum! 
Como és um grande homem, se não podes com nenhum?
Sei como é! Se convém! Se atém!
Tanto cresceste seu covarde, que ainda gigante és zé-ninguém?

Credo! Xô! Que escarcéu!
Explicar para um marmanjo
que sem inocência não tem anjo
que o salve do seu pinéu?

Vou embora, vai também!
Perto de mim por que alguém
que só sofre, e explora certo
o sofrimento encoberto
daqueles que te querem bem?

Saí daqui! Sai d´alguém! sai d´algum!
Podes dizer que és homem, mas por que te vejo como atum?
Sei como é! Te convéns! Te aténs!
Do seu cardume conheço vários, tão ordinários quanto reféns!

De tolice seu bufão,
da tolice rufião!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Girando cabeça, girando!

Uma duas três vezes perguntaram pra mim o que é que estou sentindo hoje. Sinto que estou sentado na barriga de um havaiano feito de geléia amarela com cheiro de caramelo. Ele está com uma corôa de abacaxi e tridente na mão e ri muito com as cócegas dos meus pulos! Dá pra explicar melhor o que eu estou sentindo agora? :)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Injustiça de si próprio


Aqui pintou-se
uma obra de arte
de puro acaso:
vi um homem triste
no seu ocaso
sangrava tenso
tão latejante
todo inflamado
de puro álcool.
Estava se humilhando
de boba briga
que o insuflou
da inatividade
de sua ação.
Agora perplexo
ia cabisbaixo
de bicicleta
para seu lugar nenhum.

Tempo passo

Acho
que passo

um tempo passo
feito uva
assim meio picles

guardada
em lata

bela
falsa

que nada é mais inimiga
da vida que uma coisa em conserva.

Arco Osíris

    Poderia escolher uma cor agora e ver ela surgir clara e lúcida, feito viva cor, imutável e certa.
    Talvez uma cor primária, bela por ser improduzível de qualquer outra forma, senão dela mesma.
    Mas tudo o que vejo são terciárias, quaternárias, mista cores que jamais poderia com minhas forças compô-las.
    Odeio o caos, tenho medo do que não posso controlar.
    Será por isso minha dor, por não conseguir admirar o simples, só mesmo no plano ideal?
  
    Eu adoro sonhar, porque dormindo vivo as cores primárias.
  

Tormento, náusea: o inferno são os outros!?

Ainda não sei, mas tá errado aqui.Tudo sempre tá errado, quando certo você não está. Quando vou achar o correto se mil viéses existem para contrariar o que poderia funcionar no momento?

-x-0-x-

Quando estou lá, quero isso aqui. Quando estou aqui, poderia ter aquilo lá. Droga, droga de estranha náusea por não poder decidir! São os outros, ou de fato sou sempre eu o Nosferatu da paz?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Valendo cada centavo

Gaste o que tiver de gastar, invista
no que for preciso para ter de volta
meu sorriso, meu olhar.

Prometo que não vai se arrepender,
pois a melhor solução não é ficar
triste até morrer!

Por isso não seja módico demais,
gaste seu centavo de euro e outros
valores mais e venha sentir além de
carinhos, aquilo que o amor realmente é capaz...


Comentário lindo enviado por anônimo sobre o post Gastando o que me resta do amor

Coisas do cotidiano colabora...

Como dia Marina Colasanti...
Eu sei que a gente se acostuma,mas não devia...
.
.
.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Acostuma-se para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
(...) Queria Acostumar com a ausência mas NÃO deveria....


Esse foi um belo comentário ao post Onde anda minha gatinha?

Como fogo

belíssima resposta de anônimo ao
post Como água
Obrigado!


Como fogo.

Sinto sua falta
um sentimento abrasante
como o fogo, que queima
e arde sem se ver.

Queria tão somente te abraçar,
acalentar esta saudade que teima
em ficar.

Sua presença se faz na ausência,
e nos meus sonhos
procuro te encontrar.

Quando novamente irei ter os
braços teus, se a distância tenta
nos separar num sopro de adeus?

Sonho. Sinto. Quero.
Fosse a água abraçaria o
fogo, fosse o fogo abraçaria
a água. Seria então o todo.

Time tested beautiful tips

Lenda urbana: dizem que esse poema foi escrito por ela!
    Reza a lenda que Audrey Hepburn adorava poesia.      
Particularmente uma escrita por um comediante dos anos 60 americano, Sam Levenson.
    Também jornalista e escritor, apareceu várias vezes no Ed Sullivan Show por seu versátil talento em entreter o público. O que me tocou, no entanto, foi saber sobre sua lendária generosidade, participando e fomentando diversos atos de caridade.
    Abaixo a poesia que Audrey tanto amava, e que mostra o lado sensível desse grande artista:



Time tested beautiful tips

"Para ter lábios atraentes, diga palavras doces. 

Para ter olhos belos, procure ver o lado bom das pessoas.  

Para ter um corpo esguio, divida sua comida com os famintos. 

Para ter cabelos bonitos, deixe uma criança passar seus dedos por eles pelo menos uma vez por dia. 

Para ter boa postura, caminhe com a certeza de que nunca andará sozinho. 

Pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas; jamais jogue alguém fora.
Conheça um pouco de Sam Levenson

Lembre-se que, se alguma vez precisar de uma mão amiga, 
você a encontrará no final do seu braço. Ao ficamos mais velhos, descobrimos porque temos duas mãos, uma para ajudar a nós mesmos, a outra para ajudar o próximo. 

A beleza de uma mulher não está nas roupas que ela veste, nem no corpo que ela carrega, ou na forma como penteia o cabelo. A beleza de uma mulher deve ser vista nos seus olhos, porque esta é a porta para seu coração, o lugar onde o amor reside. 

A beleza de uma mulher não está na expressão facial, mas a verdadeira beleza de uma mulher está refletida em sua alma. Está no carinho que ela amorosamente dá, na paixão que ela demonstra. 

A beleza de uma mulher cresce com o passar dos anos."


Pensamento bobo: Será que esse texto, recitado como mantra pela musa, não a levou até os caminhos humanitários?  Se de tanto dizermos palavras, acabamos acreditando nelas, pois que funcione esse ditado com coisas boas e atos belos também. Cogito, cogito, só cogito!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Vil gatuno importunando gentil senhorita

    Que pressa é essa bela dama, quanta angústia que me dá?
    Não posso ao seu lado, caminhar sem compromisso?
    Garanto que um papo leve, com suave encanto, o velho sol atenuará!
    Não ouse assim, minha donzela, a fugir do meu olhar! Aperta o passo, toda atrevida, feito fadinha enciumada, mas sei que seu coração só faz chorar!
    Me dá um tempo, deixa-me seguí-la, que depois de acostumada,  sentir-se-á tão bem domada, que tomada em bela dança, formaremos, dou como certo, em especial um belo par.
    Deixa-me te amar.
    Deixa-se me amar.
    Atenuemos esse forte sol com belas juras cozidas todas na coronária cardíaca de cada peito que nossa paixão apregoar!
    Oh bela dama, pois volte cá!
    ...
    Désolé mademoiselle, au revoir!
    ...

Grito atroz de Scarabaeus sedento pela justa vingança




    Você culpou seus erros como nossos, e agora eles viraram meus próprios erros. Chamem agora o carrasco, porque alguém deve assumir esse pecado. Mas vou te contar uma coisa, meu bem. Sabe por quê o escaravelho é sagrado para os egípcios? Eles acreditavam que o próprio podia voltar do mundo dos mortos, ileso.
Aguarde, querida, só aguarde, pois eis que sou Scarabeus, e logo provarei da sua queda.

A boneca de Dorian Gray

"Há muito que não via tamanha tristeza: mesmo a boneca, que parecia tão bela, não ficou ilesa, no tempo de sua natureza. 
Quando alguém triste, em melancolia sem fim, acha que não terá luz no finzinho de seu túnel, vemos que no sacrifício do esperar, passa-se tudo, até o estranho, sim, esse mesmo, passa."

Mire na foto, e veja que curioso. Uma boneca, que foi guardada por tempo inconveniente em um sótão, acabou por motivos não explicados, deteriorando-se, adquirindo um aspecto caquético típico da velhice humana. E ninguém imagina o porquê dessa transformação, nem mesmo o fabricante, que nunca vira algo semelhante.
Talvez assim como os cachorros adquiram a personalidade dos donos, as bonecas espelhem suas almas, aos moldes do retrato de Dorian Gray. Admirável.

Mais nesse link:
http://socyberty.com/paranormal/the-mystery-of-the-doll-that-grew-old-in-the-attic/

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Casualidade sonâmbula

    Morre uma noite, num sono, de punhal, sob travesseiro, no escuro, quarto abafado, soturno, por alguém, que o odeia, não por ranço, nem acaso, só descado, enquanto o rouba sob a lua.
    Lua essa plena cheia, brilhosa e noturna, como toda lua, que se impera, nua, perplexa em seu ocaso, num soslaio de testemunha.
    Morre dormindo, tempo findo, sempre rindo, da desgraça, que graça, trapaça, pensa ele, num último suspiro abafado sob seu travesseiro.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

São Paulo aniversaria, aniversaria São Paulo!

São Paulo anos 50, o próprio futuro


Que venham mil festas para celebrar essa velha São Paulo que desde há muitoprofetizava em suas construções quiméricas e ruelas de organização cretense o futuro traçado à gigante Terra Brasilis!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

The Pot, by Tool


Cara, a música é jóia, mas a animação é que me chamou atenção. Curta aí!
Pra quem quer conhecer mais sobre essa música do tool:

Já passei por aqui

    Já passei por aqui, e te digo, não tinha pra onde ir, só passei, por passar, na intenção de conhecer um novo lugar.
    Sabe aquela noite que não tem vento e nem coiote, nem estalo de chicote, a rua promete e o sangue fervilha, tudo brilha e então você pega sua jaqueta, não pelo frio mas pra se esconder, de proxeneta, e se misturar num cenário atroz, sem dó, sem rumo, você suas pernas e o aleatório caminho, que mundo!
    Dá medo cara, eu tremo as vezes, mas é gostoso sentir à vida um respeito, depois de tanta tediosa segurança num dia inteiro de escritório de carimbos e canetas de funcionário público.
    E então eu vou por lugares secretos, desertos, imundos, as vezes iluminados, as vezes com gente, outras com defuntos, olhando, e passando, e vendo, e levando, mas nunca parando, nem mesmo julgando. Só ando, só ando!
    Dessa vez, assim, não esperava, mas achei um lugar diferente pra minha coleção: um escadarão que levava o nada pro lugar nenhum, meio luz, meio escuridão, com ares que seria essa uma incrível emboscada fatal.
    Véio! Eu subi a piramba véio! Um passo por vez, o eco do sozinho lá longe, seguindo, me encruvinhando e me adrenando! A escalada não morria nunca, e eu bem silêncio no meu cérebro, só pra ver se sentia cheiro ou premonição do perigoso...
    E não é que lá no fim, bem pertinho, pertinho mesmo de acabar, não me desce um transeunte, que quase me arranca a alma pela boca, e que porra, é uma moça nova, com braços cruzados, mochila muchibada nas costas emburrada descendo a encosta. Sem poesia, sem melodia, tava lá, só cruzando aquele lugar perigosão da minha imaginação.
    Fiquei com vergonha e fui embora pra casa comer com cachorro-quente. Menina boba, estragando a aventura dos outros com seu descaso pelo escadarão! Respeita o escadarão menina, bem que podia ser perigoso lá! Naaa, é só um caminho tosco...

Inconformada parabólica

    Bia era notória por viver sozinha em todos os recreios e ócio-tempos na escola.
    Vivia ela com os bichos pra preferir a solidão? Não, diz que não. Mas qual é a dela então?
    Não gosta de nada, Bia, e também não gosta de incomodar.  
    Então fica longe das pessoas, pra não opinar em discussão.
    Que tensão, pensa Bia, viver com as pessoas, pessoas essas que vivem pedindo sugestão! Então Bia fica longe, mas não distante dos sons, das conversas, da confusão.
    Ela gosta de estar antenada, e se por um lado parece parada, está de fato é escutando tudo e todos, como uma novela em que o mundo é um palco de um imenso teatro bom.
    Mas que absurdo essa Bia! Lábios selados, parece até panela de pressão: como não fala, é só orelhas, capta mais detalhes das conversas, mas não pode dar nunca sua versão.
    Que terror, que agonia!  Parece até um sinaleiro!
    Fica de longe, com carinhas expressivas, parecendo mímica em jogos de adivinha!
    Mas adivinha se alguém percebe, se alguém mesmo se atreve e entender essa menina?
    Pelo contrário, fazem chacota:
    - Olha lá, aquela Bia!
    - Mas que Bia?
    - Aquela lá a estrambólica!
    - A inconformada parabólica!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A árvore - The Tree (2010), direção Julie Bertucelli

    Adoro Charlotte Gainsbourg, acho que ela possui uma força expressiva herdada de seu pai Serge que não se pode negar. E mesmo por isso não titubeei em assistir essa película para me despedir dos últimos dias do Cine Belas Artes, que fechará suas portas no final desse mês. Chuvas escondam as lágrimas dos seus órfãos ;)
    Mas o carisma do filme é da pequena Morgana Davies, afluindo toda a energia da história em torno de sua personagem.
    "A árvore" é um filme interessante, calmo, sobre a forma que as pessoas encaram mudanças em suas vidas e a forma que elas agem para livrarem-se de suas seqüelas.
    Uma família feliz vive no interior desértico da Austrália, em uma singela casa modular embaixo de uma frondosa árvore. A vida deles é feliz e pacata, até que o pai Peter (Aden Young), morre de um possível ataque cardíaco, deixando Dawn (Charlotte Gainsbourg, protagonista do Anti-Cristo de Lars von Trier) viúva com quatro filhos.
    Todos ficam perplexos com a morte, mas o ambiente do história não gira na dor da perda, e sim na desorientação dos membros da família sobre o novo rumo a seguir no cotidiano.
    Cada um parece perdido da sua forma: a mãe perde seus horários e fica sonolenta, o filho mais velho de 15 anos(Cristian Byers)  foca-se em estudar para ir embora pra Sidney, Lou de 9 anos (Tom Russell) corta os cabelos longos em protesto, o caçulinha (Grabriel Gotting) de 3 anos não se esforça pra falar, e a Simone de 8 anos abraça a árvore.
    Abraça a árvore! Simone pensa que seu pai está encarnado nela, e mostra isso para sua mãe, que busca acreditar nisso, e de fato acredita.
    Daqui pra frente, sentimos um paralelo entre a árvore e a forte presença do passado e nostalgia na família O'Neil, muitas vezes incomodando com suas raízes, destruindo o que restava da infraestrutura da casa e protegendo-os das mudanças cotidianas, tentando evitá-las talvez. A questão é saber até que ponto seu suporte e proteção é saudável para uma nova vida da família.
    Seria necessário protegê-la, como faz Simone? Aguá-la em tempos de seca, como faz Lou?
    Talvez um mudança brusca seja necessário em nossas vidas. Talvez o novo só venha a florescer com a destruição completa do velho. Esquecer, com respeito. E seguir nossos caminhos. Esse filme propôe isso. Singelo, e com maestria. Bom para assistir a sós ou em casal.
    "Numa mudança, você pode escolher ficar triste ou feliz. Eu escolhi ficar feliz. E fiquei feliz!" dita por Simone à sua amiguinha quando pergunta-lhe sobre como está após a morte do pai.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Aforismo #1 - Amigos: não confunda sustentáculo com pedúnculo





    Você deve saber diferenciar aqueles que o sustentam daqueles que são sustentados por você. Os primeiros criticam seus excessos nos momentos de seu júbilo e te sustentam no de fraqueza. Os segundos, adulam-no enquanto você tem o que oferecer, e abandonam-no em seus acidentes de percurso.

Rãs desaparecidas? Acharam elas! Que bom!

Matéria completa aqui
Como assim?

O que você entende quando lê essa matéria?

1- Que seis guerrilheiras anfíbias foragidas de alguma região foram resgatadas por tropas aliadas, após anos de sofrimento no front inimigo;

2 - Que 6 espécimes de batráquios fugiram de um laboratório nos anos 80 e graças a marcações em suas pernas (GPS naquela época?), foram encontradas sãs e felizes em algum café Haitiano, com devidos chapéis Panamás e Daiquiris gelados em suas mãos pegajosas;

3 - Sim, eu também cogitei que 6 espécimes tidas como extintas foram reencontradas, mas depois eu pensei: não, o cara que escreveu seria mais explícito em seu título;

:-)

Indubitável irrelevante





Sabe-se ele que importante ele é? Ou se perdeu novamente no inconstante, o pensamento seu mais decorrente, que é ao mundo um indubitável irrelevante, esse mísero senhor elefante?

72 horas - The next three days (2010), direção Paul Haggis

    A partir de um discussão entre mulheres num jantar de dois casais amigos, o diretor põe na nossa cabeça a dúvida sobre a índole da esposa de John Brennan (Russell Crowe). Seria Lara (Elisabeth Banks) violenta, a tal ponto de matar sua chefe? Pois é por isso que vai presa, com provas e tudo o mais suficiente para 20 anos de cadeia.
    Mas John, seguindo o jeito doce e decidido, quase obcecado de outro personagem de Crowe (John Nash em Uma Mente Brilhante), tem fé em sua inocência, e luta por sua absolvição.
    Se o sistema segue suas regras, vez por outra condenando legalmente o incondenável moralmente, poderia alguém forçar regras próprias? O racional é louco quando todos os sãos tornam-se loucos, afinal, não é? Responda quem leu Dom Quixote de la Mancha.
    Com uma sucessão melodramática de tentativas mal sucedidas em ajudar sua mulher e cuidar do seu filho, John procura Damon Pennington (Lian Neelson), um escritor várias vezes fugitivo, e pede conselhos para arquitetar a fuga de sua mulher. O suspense mantém-se durante o planejamento desse ato e no autodidatismo sobre coisas típicas do mundo do crime que irão ajudá-lo em sua empreitada.
    Tudo anda no campo do suspense, até que em um das visitas à Lara, John fica sabendo que ela será transferida para um presídio de maior segurança em 3 dias. Daí, haha, vem o nome do filme. E essa corrida contra o tempo vira o filme para seus momentos de ação.
    Bem legal o filme. Um pouco lento na parte do drama, mas vale a pena o desenrolar.


SPAM: Depois que você assistir, me responda essas perguntas: ela matou mesmo sua chefe? Porque eles ajeitam tudo para mudar nossa opinião. Segunda: ela perdoará ele? Aparentemente, ela gostava de um homem passivo, e sua carinha no final deu a entender que o páreo será difícil. 3º pergunta sacana: Se ela fosse perdoada, imaginando que o tenente achasse o botão, você acha que ela voltaria aos EUA com o filho e diria ao marido: "cara, você é um fora-da-lei, eu não, e não vou arcar com as conseqüencias. Se entregue ou fique por aí meu amigo!", hahaha, sacanagem, a mocinha parece ser idônea, hahaha.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Desolado

    Refugo. Tudo o que sobrou da sua vida de bagunça e ócio, violência e ansiedade tediosa. Refugo.
    Náusea de ser resto de dejetos no azulejo empardecido vizinho da latrina do boteco de estrada. E a vida é eterno enjôo para o incompetente: não era burro o suficiente para ser inofensivo, nem esperto para ir embora após a mágoa generalizada: ficava até apanhar, e sofria o ostracismo com a vergonha de se manter marginal àqueles que machucou.
    Não ia embora. Fedia à malcriação, e seus filhos, que os assim chamo por pô-los ele ao mundo, o destratavam, mal saiam das fraldas.
    Sua mãe sofria de desgosto, mas não o suficiente para ser levada por Deus. Ficava lá, se esgueirando embrulhada numa coberta, sustentando-o com pão, cachaça e palavras de juízo. Qual o quê, ficava com a comida e a aguardente, e em sua embriaguês estapeava e culpava a pobre mulher. Aqui se paga, dizia, e se fiz, foi por você, velha maldita. Em qual situação resolveu pôr-me nessa miséria de mundo! Vadia! Amaldiçoada!
   .... e chorava. Chorava muito. E cobria sua ressaca com cabelo penteado pra trás, parafina e roupinha bem passada. Pedindo perdão pra tudo e todos, como o mais sofredor dos seres. Mas quem de soslaio o olhasse clinicamente, via no seu olhar de cenho a maldade. Hipocrisia dos vermes.
    Escarneado seja, refugo!

Why so Serious?

    Por um momento pensei que a vida fosse ficar mais calma. Tanto tempo longe de tanta gente que não me quer por perto. Até que, tal qual uma lufada de ar quente no balão do meu destino, recebi a predição do cigano:

"você terá um novo colega de cela. e vozes dirão a ele que você é um demônio."


    Levar a vida a sério pra que? Ela acaba logo mesmo...

Gödel, Escher, Bach, um entrelaçamento de gênios brilhantes

    Livro vencedor do Prémio Pulitzer escrito pelo acadêmico norte-americano Douglas Hofstadter, GED, como costuma ser chamado para os íntimos, foi publicado em 1979 e é citado em rodinha acadêmica e em chat nerd até os dias de hoje.
    E é legal, bem legal. Quando você o lê, imagina que vai aprender sobre a vida desses três gênios e um eventual entrelaçamento entre suas obras.
    Mas as coisas vão mais além... digamos que eles são os coadjuvantes de base de um imenso bololô cultural.
    De lógica, recorrência à budismo zen e colônias de formigas, o autor passa por diversos assuntos do conhecimento humano em uma profusão de informações, aforismos e cânones literários num emaranhado de paradoxos e aforismos que confundem o leitor sobre qual é realmente o tema da obra.
    Tal qual um quadro de Escher, que nos mostra belo, talvez mesmo pelo absurdo de nos imaginarmos dando voltas em escadarias impossíveis, o labirinto que esse livro nos faz penetrar é tão vertiginoso quanto contagiante.
    Bom, bom demais, mesmo não o terminando. Para quem gosta de música teórica, lógica da estética e matérias exatas como hobby.
    Porque, como diz a inscrição ao redor do big ben uspiano na Praça do Relógio:  "No universo da cultura o centro está em toda parte." - bem falado, sr. Miguel Reale.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Santa Muerte, padroeira dos traficantes

    No México, assim como nas comunidades latinas imigradas nos Estados Unidos, é comum encontrar capelas e itens relacionadas à Doña Sebastiana, a Santa Muerte.
    Entidade pagã para os católicos, que inclusive treinam exorcistas para proteger os crentes cidadãos de sua influência mística
    Sua réplica em estátua é encontrada em cores específicas para o que se deseja:
    vermelha - amor;
    verde - ajuda financeira;
    preta - proteção;
    branca - sorte;
    Vestida como São Miguel Arcanjo, com foice e balança nas mãos, ou como Virgem Maria, com manto e coroa, não só zela pelas causas violentas, como seqüestro, tráfico e morte, como também protege aqueles que eventualmente podem ser vítimas delas. Tudo a seu preço, claro: marijuana, cigarro, frutas, doces, tequila.
    Existem relatos do século 18 sobre indígenas do México que amarravam esqueletos e os chantageavam com amarrações em troca de pedidos concedidos.
    As lendas chegam até os tempos de Veracruz, quando um feiticeiro clamou ter sonhado com a morte personificada. A aparição aconselhou-o a criar uma imagem e adorá-la, em troca de morte indolor aos devotos.
    Por quê as pessoas fogem das tradicionais religiões em busca de cultos novos, pseudo-santos, divindades pagãs? Não suportam as promessas antigas já desgastadas pelo tempo, ou buscam coberturas para novos valores? Doña Sebastiana, zele por minha morte, me socorra!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Paradoxo da obviedade





É óbvio que seriam só flores, se eles fossem poetas
e tivessem amores...
É óbvio que seriam só dores, se eles fossem só prosa,
e tivessem rancores...
É óbvio.

Tão pequeno já fujindo do tempo!

    Quando era pequeno, sempre me preocupava com o tempo.  
    Perguntava ao meu pai, meu tio, aos professores, ao vizinho, tudo o que podia pra saber sobre os prazos da vida.
    "Pai, com quantos anos tem que começar pra ser faixa-preta de Karate?"
    "Professora, com quantos anos tem que ter pra ser pianista?"
    ... e eu tinha medo, muito receio e ansiedade. Os prazos sempre venciam pra tudo:
    "Pra ser competidor de bicicleta, tem que começar lá pelos 5 anos, pra virar cientista, tem que começar a faculdade bem novinho!"
    Tenso! Imagine pra mim, criança aniversariada de novembro, que tudo na vida começa atrasado!
    Então largava tudo pra depois... porque lá na frente eu vejo o que faço!
    ....e curioso! Depois tudo ficou melhor, quando o tempo mesmo deu a resposta pra mim!
    É incrível, mas depois de crescido, percebi que dá pra ser um bom karateca começando a treinar com 26, dá pra ser cientísta sendo retardado (bem, semi-retardado) na escola, dá pra aprender a pintar, desenhar, escalar montanhas, tudo em qualquer tempo. Mesmo porque, se começar a tocar flauta com 34 anos, terá 10 anos de experiência com flauta aos 44!
    "Ah, mas eu vou estar muito velho até lá, eu queria saber tocar agora!"
    "Não amigo, vai ter de ter paciência. É assim que as coisas funcionam!!!"
 
    O vetor é a vontade, não a época pra se começar.